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A jornalista Viviane Aguiar é autora do livro “22 Rivieras”, sobre um dos bares mais marcantes da história da Paulicéia. Da obra constam entrevistas com ex-frequentadores do local. Entre eles, este cronista semi-amnésico. Todos nós desfiamos historias reais e lendas que, por falta de provas em contrário, foram impressas na memória do povo. Tudo isso feito para coincidir com a reabertura do velho estabelecimento, agora com nova cara e administração.

Claro que fiquei super curioso para ver o que a dupla Alex Atala- chef renomado do D.O.M – e Facundo Guerra- espécie de Rei Midas da noite de São Paulo-, fizeram no terreno santo do “Riva”. E, na noite seguinte a minha chegada à cidade fiz a velha peregrinação, que desde o final dos anos 1970 não repetira: fui à chamada “esquina maldita”, na Avenida Paulista com Consolação.

Deparei-me com uma briga. Não entre frequentadores inebriados, como acontecia antigamente. Esta atual é bem mais séria e envolve desavenças entre a forma e a função. Não me entendam mal: a forma é bela. O problema é que ela não obedece à função.

Há um balcão no meio do primeiro piso. Ali , parece, se casaram dois bares famosos de São Paulo: O finado LongChamp – aquele da Rua Augusta dos anos 1960 e 1970 – e o atual Bar Balcão. O primeiro deles tinha um aparador de copos e cotovelos que cercava os garçons como mestres de cerimônia num picadeiro. O segundo é conceito mais aberto, onde tanto o público, quanto os servidores estão dentro e fora do círculo (que, na verdade, no O Balcão o circuito tem traçado bastante irregular). Como o novo Riviera, em seu piso térreo tem espaço relativamente pequeno, o trambolho no meio toma conta do recinto.

Teria sido bem melhor manter o desenho antigo – ainda que fosse obrigatório, claro, uma operação plástica no “visu”. Nele o balcão era estreito, à direita de quem entrava, e era quase que somente usado pelos garçons, Seu Zé e Juvenal, em busca dos pedidos. Na minha lembrança, que, claro, foi moldada sob o efeito de quantidades industriais de álcool, a quantidade de pessoas na área era bem maior que a de agora. Além do mais, as mesas dão um certo ar de conspiração a cada grupo, o que antes era uma necessidade – para não cair nos ouvidos dos agentes do DOPS – e agora seria um  charme – além de evitar-se ouvidos xeretas. No andar de cima do Riviera estão as mesas – além de uma vista fantasticamente representativa de São Paulo – mas não é possível se chegar por lá sem subir aquela escadaria de musical da Metro. Esse ato impede o ritual secular nos logradouros públicos: o de chegar e dar uma geral no local antes de se decidir ficar e entornar umas e outras. O olhar do freguês é o termômetro do clima do bar.

Um bar é local para conversas ou meditação. No Riviera atual é impossível de se conversar até com os próprios botões.  A música nas caixas tem os decibéis de parque de diversões do interior. Tímpanos são vaporizados permanentemente sob a barragem sonora daquele ambiente. Ninguém consegue trocar duas palavras com o vizinho. Isso só pode ocorrer numa “balada”, onde o negócio é muito barulho e pouco papo.

Assim, tomei meu chopinho e caí fora. Beba-se com um barulho.


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