O verão de Nova York

Calor infernal em Nova York neste meio de verão no Hemisfério Norte. Nem estávamos em agosto e as estátuas já derretiam nos parques. A contabilidade de mortos, devido à temperatura, subia como os termômetros. Eram 33 vítimas ainda no começo do mês passado. Geralmente idosos e pobres. Gente sem ar condicionado e vivendo em favelas verticais. Ainda assim, estavam em melhores condições do que seus patrícios da Califórnia e Arizona, onde os in­cêndios nas matas secas destruíram casas e mataram toda uma equipe de bombeiros.

Nas praias de Long Island, as águas-vivas não davam chances para os banhistas entrarem na água. Mesmo que o bicho não esteja por perto, seu veneno espalha-se pelo mar e pinica a pele de quem mergulha. Porém, o pior está por vir. Neste mês de agosto, começa a temporada de furacões. Antigamente, essa era preocupação apenas daqueles que estavam na Flórida, costa da Virgínia e Carolinas – do Norte e do Sul. Agora, depois de duas tempestades – Irene e Sandy –, o território do nordeste americano também está submetido às intempéries monstruosas. Afinal, até hoje os frequentadores das praias da orla de Nova Jersey correm risco de pisar em entulhos deixados sob a água pelo Sandy. Outro dia mesmo, encontraram uma gôndola de roda-gigante mergulhada a 30 m da areia. E tem mais: cascos de barcos, pilares do calçadão, eixo de caminhão, pia de cozinha, um fogão de seis bocas e toda a sorte de bagulhos naufragados pela força da ventania.

Pelo que dizem os meteorologistas, os furacões serão agora muito mais frequentes na região. Tanto, que o prefeito Mike Bloomberg e o governador Andrew Cuomo já apresentaram planos para a construção de barreiras de proteção em Nova York. Vai demorar e custar fortunas para que se tenha algum sistema com chances de peitar tempestades.

Lembro-me do tempo, não muito distante, quan­­do Manhattan parecia à prova de enchentes. Chovia forte, mas as zonas de alagamento restringiam-se apenas aos subúrbios, perto de rios e córregos. Na ilha mesmo, apenas uns trechos das marginais formavam poças, as quais até os Fiats 500 enfrentavam sem parar. Eu comparava a eficácia do escoamento d’água nova-iorquino com aquele de São Paulo, que vira o reino submarino com qualquer garoa. Mas hoje em dia também corremos o risco de ter o mesmo destino de Atlântida, o continente perdido. Atlantic City, a cidade dos cassinos em Nova Jersey, já tem até o nome bem apropriado.

Eu moro em um platô ao norte da ilha, mas seguro, como se sabe, morreu ancião: vou comprar um escafandro ou pelo menos uma lancha. Nem as girafas vão ter salvação em Nova York, caso o próximo furacão chegue com a mesma intensidade do Sandy. E olha que esses bichos moram no Bronx, e não na ilha. Acho que está mais do que na hora de Hollywood – com sua mania de fazer filmes com heróis de gibis – desenterrar Namor, o Príncipe Submarino. O cara, caso não me falhe a memória, era meio ecologista. Detestava os humanos, embora lutasse junto dos aliados contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial. O homem-peixe alertava contra os perigos da fuzarca aprontada pelos terráquios com suas bombas. Mas faz tantos anos que o mocinho escamoso não dá as caras, que pode ter morrido com a poluição dos mares. Ou foi pescado por algum navio pesqueiro japonês. Virou sushi. Chame-se o Thor – não o filho do Eike –, mas aquele que é rei das tempestades. Santa Bárbara será a musa do verão nova-iorquino.


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