Uma colega de redação me perguntou se eu iria escrever sobre o peru, nessa época do Thanksgiving Day. Respondi que não: eu já havia falado demais sobre o feriado americano, uma espécie de Dia de Ação de Graças ecumênico e celebrado na última quinta-feira de novembro. Tudo o que tinha de dizer sobre o feriado, a ceia e a ave que é a estrela do rebu fora dito e repetido. Mas enganei-me.
Deparo com um leitor americano do escritor Dan Lewis, colunista de curiosidades e autor do interessantíssimo livro “Now I Know”. É um grande sabereta esse Lewis: tudo o que você quer saber sobre assuntos dos mais importantes ou apenas idiotas, o cara esclarece. Seu site na net funciona como um verdadeiro Ministério das Perguntas Cretinas. E, dentre estas, veio a: “Por quer turkey (peru) chama-se turkey?”
Em bom paulistano do antigo Bexiga eu diria: non me ne frega niente! Eu nunca quis saber porque uma galinha chama-se galinha ou um sapo tem esse nome. Mas, cada louco tem sua mania, e como nos Estados Unidos o peru ocupa a prateleira de cima na hierarquia dos animais, é inevitável que algum babaca fizesse essa pergunta sobre origem do nome.Tenha em vista que o “pai da pátria” Benjamin Franklin propôs que a ave símbolo dos Estados Unidos da América fosse o peru selvagem. Não apenas sugeriu isso, mas insistiu no assunto. Seria legal ver um peru segurando um punhado de flechas na garra direita e uns ramos de mato na esquerda, durante um voo de ataque, como se tem hoje a águia careca (que aliás não é careca. Vou perguntar ao Lewis porque o bicho cabeludo tem fama de calvo).
Por enquanto, o Lewis diz que o primeiro explorador europeu a comer e pegar gosto pelo turkey foi o psicopata Hernán Cortés, numa expedição ao México em 1519. Antes dele os europeus não conheciam a ave que só existia nas Américas. E, como a gente sabe: cai bem um peru bem assado, com batatas e enchimento de nozes portuguesas, maçã picadinha, uma pitada de canela, toucinho e tudo mais que estiver dando sopa nas prateleiras da cozinha. O Cortés pegou algumas parelhas do bicho e levou para a Europa. Lá a béstia (o peru, não o Cortés) procriou como praga e virou prato cobiçado.
Em 1524 o peru já estava domesticado e sendo criado na Inglaterra. Mas não chegou lá diretamente da América. Antes a ave passou pelo mediterrâneo onde mercadores faziam estoques do bicho e o levavam para vender na chamada Pérfida Albion. Esses comerciantes eram chamados de “Turkey merchants”, porque vinham de uma área que era controlada pelo Imperio turco. Daí o nome “Turkey” para o bicho.
Esclarecido esse batismo inglês nos resta saber porque o bicho chama peru, em português. Não sou o Lewis, mas arrisco um palpite: chamam peru porque os portuguêses que o nomearam assim recebiam seus suprimentos de penosas do Peru. Do contrário, iriam chamar de Turquia (o que é bem menos apetitoso). Ou “el Pavo”, como se diz em espanhól. E se não for isso, fica sendo.
Deixe um comentário