Estive em Cancún, em abril, exatamente durante o período em que foram infectados com a gripe suína os oito primeiros nova-iorquinos. O fato me dá credenciais para o pânico. No entanto, estou tranquilo. Não ando pelas ruas usando máscara – que, pelo tamanho de minha napa, teria as dimensões de um lençol, de casal. É bom lembrar que, até uns meses atrás, era proibido andar mascarado por Nova York, sob a justificativa da prevenção ao terrorismo. Como se os radicais islâmicos fossem sair por aí fantasiados de odalisca. Agora, ao que parece, liberou geral a cobertura da face. Tem nego vestindo carapuça de carrasco, lenço de bandido do velho oeste e até bico do Pato Donald. Não parecem se tocar que o carnaval já passou.
O evento pandêmico mais agudo é mesmo o terror da população. Isso, a despeito de que aqui, somente em 2009, já foram desta para melhor 13 mil americanos vitimados com a gripe comum. A cada ano, sucumbem à influenza 30 mil infelizes nos Estados Unidos. E olha que tem vacinação gratuita em outubro. Eu mesmo, a despeito da insistência de minha sogra hipocondríaca, nunca entro na agulha. Da última vez que o fiz, a infecção me pegou em cheio, sem dar atenção à vacina. Quando fui cobrir a invasão do Haiti, tomei todas as precauções – desde inoculação contra a febre amarela, passando pela prevenção ao tétano, até a blindagem ao cólera. Resultado: fiquei surdo. Um vírus atacou meu ouvido e me tirou a audição de forma peremptória na orelha direita. Ou seja: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
A diarréia mata uma pessoa no mundo a cada três segundos. Bastaria saneamento básico eficiente, com água potável para populações carentes, para que esse flagelo fosse eliminado. Porém, ninguém sai por aí em pânico devido ao piriri, esgotando os estoques de rolhas e papel higiênico. Mas é só dar o nome de um bicho a um vírus, e pronto! A turma reage como galinha sem cabeça. Lembram-se da gripe aviária? Aquela vinculada a frangos da China, que também foi matando passarinhos e gatos, feito garoto com estilingue? Pois é, um colega jornalista, numa publicação onde trabalhei, fez matéria prevendo que morreriam 50 milhões de pessoas. Disse que, com a migração de pássaros – da América do Norte para a do Sul – a peste cairia sobre o Brasil em setembro daquele ano de 2006. Isso, a despeito de eu ter mandado para o redator duas entrevistas com especialistas – um japonês da Organização Mundial da Saúde e um pesquisador americano de Harvard – negando a catástrofe. Setembro veio e foi, e a gripe voou para o pé de página da história.
Agora é a vez dos suínos. No Egito promoveu-se a chacina dos bichos. O que mais me surpreende é que existem suinocultores egípcios. Afinal, o país tem esmagadora maioria muçulmana, que não só está proibida de comer porcos como tem medo e nojo patológicos desse animal. Mesmo sabendo que deve ter cristãos que não dispensam uma bistequinha no Cairo, é de se imaginar que o negócio de chiqueiros naquelas bandas é, no mínimo, duvidoso na rentabilidade. Mas não teve jeito: passaram a faca na porcada. Se a moda pega, os palmeirenses que se cuidem.
Deixe um comentário