Quando éramos moleques, dois primos meus (incluindo, é claro, o impossível Josezinho Carlos), mais um amigo de infância e eu, colecionávamos uma lista de profissões inusitadas. Saíamos pelas ruas e, ao encontrar o anúncio de serviços esquisitos, anotávamos em nossa galeria de honra. Constavam, por exemplo, o “alargador de gravatas” (que colocava na moda, criada por Ralph Lauren nos anos 1970, as peças fininhas remanescentes dos anos 1950). Havia também o “fabricante de armadilhas para caçar baratas” (numa Era em que os famosos “Motéis de Baratas” ainda não haviam sido massificados). E o sempre popular “vendedor de raio laser” (quando a radiação eletromagnética ainda era coisa de seriado do Flash Gordon ou Buck Rogers – procure-os no Google). Lembrei dessas excentricidades por causa da enorme seleção de Reality Shows (os shows realidade) que invadiram as televisões mundiais. Estes, elevam a paroxismos os esforços humildes de minha turma.
Aqui, nos Estados Unidos, temos shows que mostram detalhadamente a vida de mecânico que transforma automóveis em outras máquinas. Por exemplo: o mago das garagens, Jesse James, conseguiu modificar uma Ferrari 308 GT, numa máquina de fazer macarrão. Em seu programa Monster Garage, ele transmutava Romisetas, Miatas, Ford Edsel, entre outras viaturas, em sorveteiras, fornos micro-ondas e saunas turcas, no intervalo de uma semana e com o auxílio de um anão amigo. Ganhou fama, dinheiro e casou com a espetacular Sandra Bullock.
E mais: acompanham-se pela telinha americana, os trabalhos em uma casa de saúde, onde um gato determina com exatidão, o dia e a hora em que um dos pacientes baterá as botas. Imagine o sufoco de um gajo quando o bichano começa a rondar seu leito. É de matar o infeliz com um infarto. Há também um russo que cura soluços com cartas de baralho e verrugas com um anel de ouro. Ou, o que dizer de uma senhora que ensina matemática auxiliada por 10 cães? O público assiste a tudo isso sem pestanejar, numa prova gritante de que tem muita gente desocupada nesse mundão.
O Brasil, que já copiou outras formas de reality shows, fatalmente deverá atualizar o cardápio da maravilhosa programação de suas emissoras. Sugiro que contratem meus primos (principalmente o endiabrado Josezinho Carlos) e nosso amigo. Farão uma seleção de possíveis candidatos nacionais com ocupações dignas de escrutínio. Com certeza, vão propor exposição à curiosidade pública, do cotidiano de um pintor de carrocerias de caminhões. Aqueles profissionais que fazem as firulas coloridas e pintam frases imortais nas rabeiras. Será que usam estêncil nas linhas rococós? Isso se provaria um desapontamento: quero ver o artista fazer tudo a mão, sem moldes. E para as frases? Com certeza, eles têm um catálogo dos maiores sucessos, como a imortal “Por falta de calça nova, passei o ferro na velha” e “Em casa de Saci, uma calça veste dois”. Mas, e quando o freguês foi tomado pelo ensejo da pena e cometeu uma filosofia original? Dá para fazer a obra na hora?
Que tal xeretar uma semana inteira de atividades em um salão de depilação de virilhas? Como vive a funcionária que limpa as sobras? E o que é feito daquilo que foi descartado? É reciclado por quem e para quê? Mostrem detalhadamente a vida de quem faz biju. Acompanhe a excitante jornada de um alimentador de pombos urbanos. Como são feitos os sapatos femininos para pés de travestis? Dá para ver que o céu é o limite para novos espetáculos sobre a realidade. Mãos à obra! Nada de pruridos, pois vergonha é coisa do passado.
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