O prefeito Mike Bloomberg prossegue com seu plano de expulsar automóveis da cidade. Há tempos, coloca entraves ao tráfego de veículos, diminuindo as faixas asfaltadas e aumentando calçadas ou estabelecendo ciclovias. Para mim, tudo bem. Concordo que Manhattan foi feita para as caminhadas. Mas há equívocos nas ações. A famosa Times Square é um exemplo. Considerada a “encruzilhada do mundo”, a região foi transformada em praça para pedestres. Cercada de barricadas, tomada por mesas, cadeiras, bancos e até árvores em vasos, boa parte da área agora é exclusiva para pedestres. Mas com todos os telões eletrônicos e placas de publicidade, ali se tem um dos pedaços mais claustrofóbicos do planeta. Que relaxamento pode ser extraído dentro de um lugar que é uma caixa de poluição visual? O sujeito senta e é engolfado por noticiários em aparelhos de televisão do tamanho de um campo de futebol e anúncios de produtos que brilham, piscam e se revezam entupindo as capacidades visuais de homem ou animal. Trata-se de um lava a jato cerebral capaz de criar zumbis em meros cinco minutos de exposição.
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Times Square era uma cracolândia e prostíbulo a céu aberto, que foi transfigurada em parque temático para turistas, numa disneyficação promovida pelo ex-prefeito Rudy Giuliani. Nos teatros, onde os cartazes anunciavam filmes pornográficos e de kung fu, agora tem-se as versões musicais de O Rei Leão, A Pequena Sereia e A Bela e a Fera. Onde era possível comprar drogas de variedade inimagináveis, hoje são comercializados souvenirs ainda mais diversificados. Cafetões, prostitutas, assaltantes e traficantes foram mandados para outras freguesias. Grande parte deles abraçou o chamado e-commerce: as vendas pela internet. Da população original só restaram os malucos. Esses proliferaram na mesma proporção de turistas e policiais. E, com o surgimento da praça sem carros, essa população explodiu.

Quem para dois minutinhos na Times Square é abordado por dezenas de pessoas de Ohio, perguntando onde estão levando o musical O Fantasma da Ópera. Isso, a despeito do mega outdoor indicando o local da assombração. Acotovelando-se com os turistas, estão os abilolados e esquisitos, pedindo dinheiro, alertando para a proximidade do fim do mundo (como se fosse preciso, em um lugar desses) e fazendo proselitismos sobre os mais insuspeitados assuntos. A aglomeração que se forma acaba atraindo a atenção de policiais ou soldados – fortemente armados -, procurando saber qual o motivo do bafafá. Periga levarem em cana algum visitante sul-americano, confundido com árabe. A cena toda é transmitida ao vivo em algum telão e para a curiosidade pública na internet.

Eis aí a alma de Times Square. Trata-se de uma babel de imagens, que são colhidas por estimadas duas mil câmaras ou regurgitadas nas megatelevisões. Houve tentativas de protestos contra esse admirável mundo novo, quando larápios roubaram vários aparelhos de segurança do local. É de se perguntar: onde estavam os vigias que são pagos para xeretar a vida alheia e os acontecimentos? Antes de serem levadas, as objetivas registraram as caras dos ladrões? E, estes, foram presos? Não se tem notícias de recuperação de um único aparelho ou da detenção de suspeito. Assim, qual é a função desses equipamentos, além de enfezar um cidadão?

Bloomberg certamente melhorou a qualidade do ar nova-iorquino. Mas continua deixando correr à solta as poluições visuais e sonoras. Ele próprio contribui enormemente para essas condições, com sua cara de fuinha e a voz choramingueira de criança mimada. E na Times Square, o prefeito está constantemente em evidência proeminente em um telão com dimensões de uma pista de pouso. Pensando bem, é melhor passar pela praça em alta velocidade, a bordo de um carro.


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