Como é divertido ver uma plateia em trajes de gala sem saber se deve rir ou não, aplaudir ou não, as falas do sujeito negro que está no palco. O Oscar teve isso de bom. Chris Rock deu uma boa entortada no esquema habitual da entrega do famoso carequinha.
Tudo bem que já é meio de praxe o estilo polêmico dos apresentadores. Mas normalmente as piadas são inconsequentes, causam um certo barulho e logo esmorecem. Dessa vez eram todas direcionadas para o racismo, talvez a questão social mais importante dos EUA e que ganhou tons explosivos com os protestos em Chicago, Baltimore, Ferguson e outras cidades em que a polícia branca matou negros desarmados. Além é, claro, do boicote de Spike Lee e outros por conta da não inclusão de negros entre os indicados ao Oscar.
Chris Rock não deixou pedra sobre pedra. Zoou com a cara de todo mundo na plateia. Foi brilhante ao dizer que se o apresentador do Oscar fosse indicado ele não teria pego aquele trabalho. Logo ao anunciar as primeiras apresentadoras, atacou, com sarcasmo ligeiramente minimizado pelo largo sorriso: “Agora um pouco de diversidade: a branca Emily Blunt e a mais branca ainda Charlize Theron”. As duas surgiram do fundo parecendo estar desconfortáveis, apesar da música triunfante e dos aplausos encorajadores. Num outro momento, disse algo como: “a preocupação com o Oscar é recente na comunidade negra. Nos anos 60 a gente tinha coisas mais importantes para se preocupar. Como encanar com o prêmio de melhor atriz quando sua avó está pendurada numa árvore?” O público, com cerca de 90% de brancos ou mais, riu. Deveria? Pergunta difícil. Eu ficaria envergonhado, pois é a mais pura verdade. Em outro momento ele sugeriu que Hollywood é uma irmandade universitária racista. E propôs que se criasse uma categoria de “melhor amigo negro” para garantir a presença black na cerimônia.
Fiquei pensando se o roteiro foi totalmente aprovado pelos produtores do evento ou se Rock deixou umas bombinhas na manga para dizer apenas ao vivo. Outra pergunta difícil. Pois fato é que, polêmica, ainda que benéfica e necessária, como no caso, dá audiência. Curioso é que a presidenta da Academia do Oscar é negra e que, num claro esforço (algo constrangedor) de compensação escalou vários apresentadores negros para anunciar os prêmios. Algo que só aumentou a impressão de que a podridão no reino da Dinamarca é pinto perto do que acontece nos EUA.
Resta reiterar: já que o rock foi roubado dos negros (que o digam Elvis, Beatles e Rolling Stones), nada mais justo que afirmar: Chris Rock rocks!
Assista à apresentação aqui:
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