Lygia Fagundes Telles é uma grande escritora. É natural, portanto, que seja indicada para receber o prêmio Nobel de literatura. A Academia Sueca aceita sugestões de universidades e entidades como a União Brasileira dos Escritores. Do mundo todo. São milhares de indicação para um só premiado.
A torcida deve ser grande, mas dificilmente ela vai ganhar – suas chances são mínimas. Por isso, o auê em torno da notícia é muito precipitado. Mostra como somos carentes nessa área. Falta-nos, afinal, a Copa do Mundo da Literatura (a rigor, de qualquer área, pois o Brasil nunca recebeu Nobel nenhum).
Se existisse algo chamado justiça literária, deveríamos ter vencido antes, com Drummond, Guimarães Rosa, Graciliano, Clarice ou João Cabral. Lygia ganhou o Camões, que já é um grande feito. Trata-se do maior prêmio literário para autores de língua portuguesa. Para o Nobel, porém, falta muito.
Não em termos de qualidade. Dito de forma direta, ela é melhor do que muitos dos que foram laureados e pior do que vários que não o foram (além dos brasileiros citados, Borges, Proust, Kafka…). Mas parece haver uma certa lógica nas escolhas da Academia. E essa lógica não favorece Lygia, já com 92 anos.
O fato de ser mulher, por exemplo. Svetlana Alexievitch foi apenas a 14ª mulher a vencer, no ano passado, o prêmio, que vai para a 115ª edição. Ser brasileira talvez até ajude, considerando-se que os doutores suecos têm apontado suas preferências para vários pontos do globo outrora esquecidos. Mas até aí, há vários outros escritores de países “periféricos” (leia-se: não anglófilos) na fila, em posições altas nas casas de apostas. Seria preciso uma grande campanha e reedição de seus livros pelo mundo para virar o jogo.
De minha parte, preferia ver outro brasileiro indicado. Entre outros motivos, porque Lygia é fundadora e diretora da UBE, o que soa meio cabotino, por mais que ela tenha méritos de sobra – seus livros As Meninas e Seminários dos Ratos são de fato excelentes! Mas também porque considero outros melhores. Quem? Sérgio Sant’Anna, Rubem Fonseca, Adélia Prado, Milton Hatoum, Dalton Trevisan…
Mas ficaria muito feliz se ela ganhasse.
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