Aos 13 anos, ajoelhada sobre uma cadeira, Anastásia Nikolaevna Románov fez um autorretrato numa época em que não havia nenhuma referência a selfies. O ano era 1913. “Eu tirei essa foto de mim mesma olhando para o espelho. Foi muito difícil, pois minhas mãos estavam tremendo”, escreveu Anastásia, a mais nova das quatro filhas de Nicolau II, o último imperador da Rússia. Acredita-se que, para fazer a selfie, ela tenha usado uma máquina Kodak Brownie, lançada em 1900.
Quando nasceu, em junho de 1901, Anastásia foi uma decepção. Depois de terem tido três meninas (Olga, Tatiana e Maria), os Románov esperavam um filho homem, que só veio três anos depois. Anastásia, no entanto, acabou se revelando uma personalidade ímpar, como registrou seu tutor, o francês Pierre Gilliard: “Anastásia era muito travessa e engraçada. Tinha um sentido de humor apurado e os seus comentários sarcásticos atingiam quase sempre assuntos sensíveis”.
No autorretrato que ficou para a história, a irreverente Anastássia aparece totalmente concentrada no ato de fotografar. O toque sombrio da imagem é a mancha branca à direita da garota. Sinal de superexposição? Cinco anos depois dessa fotografia, Anastásia foi fuzilada, junto com os pais e os irmãos, no porão de uma mansão da cidade de Iekaterinburgo, para onde tinham sido levados, na condição de prisioneiros dos bolcheviques, que haviam chegado ao poder em 1917.
A lenda de que Anastásia teria sobrevivido ao fuzilamento fez com que, no decorrer do século XX, pelo menos dez mulheres tenham se apresentado como a filha mais nova de Nicolau II. Todas acabaram desmascaradas. A origem da lenda está provavelmente no fato de Anastásia ter demorado a morrer durante a fuzilaria que encheu de fumaça o porão onde estavam. Na esperança de fugir da Rússia dilacerada pela guerra civil, Anastásia, como suas irmãs e o próprio irmão, tinham o interior das roupas recheado de joias. Muitas balas bateram no seu corpo e não entraram. Simplesmente ricochetearam.
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