Boca Maldita, o reduto da livre manifestação em Curitiba

Multidão ocupou a Boca Maldita em 12 de janeiro de 1984 – Foto: Reprodução
Multidão ocupou a Boca Maldita em 12 de janeiro de 1984 – Foto: Reprodução

Ninguém sabe ao certo quantos se levantaram contra a ditadura naquele dia. Os relatos variam de 30 mil a 80 mil manifestantes. O fato é que, na quinta-feira 12 de janeiro de 1984, uma multidão ocupou um espaço conhecido como Boca Maldita, em Curitiba, para pedir eleições diretas para presidente. Foi o primeiro grande comício pelas Diretas Já.

A ditadura estrebuchava. Os principais líderes da oposição se revezaram no palanque, a começar pelo deputado Ulysses Guimarães, presidente do PMDB, um partido que à época fazia oposição aos militares. Foi também o comício de estreia do locutor Osmar Santos, cuja voz logo seria identificada como símbolo da campanha.

A Boca Maldita, epicentro do comício, corresponde ao entorno da rua XV de Novembro com a Praça Osório, no centro da cidade. O lugar é conhecido como espaço de livre opinião desde 13 de dezembro de 1956, quando frequentadores dos cafés e restaurantes da região fundaram a confraria dos Cavaleiros da Boca Maldita de Curitiba. 

O lema da confraria é “nada vejo, nada ouço, nada falo”. Na prática, tudo veem, tudo ouven, tudo falam.  Desde 1956, nenhuma manifestação política em Curitiba passou ao largo da Boca Maldita. Não poderia ser diferente no momento em que a cidade se prepara para o embate entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o juiz Sergio Moro.

O espaço do levante histórico contra a ditadura foi destinado pelas forças de segurança aos apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A sombra do juiz Sergio Moro e do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, também se faz presente no local. Em 2015, ambos foram sagrados cavaleiros da confraria em jantar que acontece todos os dias 13 de dezembro desde 1956. Detalhe: até hoje mulher não entra na festa. A sorte é que a Boca Maldita das ruas é um espaço público.

 

 


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