O pesqueiro francês Cassiopée foi o primeiro a ser aprisionado pela Marinha brasileira. Era 2 de janeiro de 1962 e a corveta Ipiranga (V 17) flagrou o pesqueiro capturando lagosta a dez milhas da costa do Nordeste. Poucos dias depois, outra corveta da Marinha, a Purus, avistou dois pesqueiros franceses na região, mas não teve autorização para abordá-los.
Estava em curso a Guerra da Lagosta, como ficou conhecido o conflito entre o Brasil e a França por causa da captura ilegal do crustáceo. No ano anterior, quando a exportação brasileira se encontrava no auge, barcos franceses conseguiram autorização para pesquisar viveiros no Nordeste. Só que, em vez de pesquisar, eles faziam pesca predatória. Com o aprisionamento do Cassiopée, o governo francês entrou no conflito.
O Brasil defendia que a lagosta era recurso de sua plataforma continental, de natureza sedentária. Para sair do lugar, não andava. No máximo, executava saltos. Na sequência, a França sustentou a estranha tese de que a lagosta seria um peixe, já que se deslocava de um lado para o outro, dando saltos. Não pertenceria à plataforma continental brasileira e poderia, então, ser capturada sem restrições.
Na defesa brasileira, o almirante Paulo de Castro Moreira da Silva ironizou: “Por analogia, se a lagosta é um peixe porque se desloca dando saltos, então o canguru é uma ave”. Enquanto não se encontrava uma saída diplomática, a França despachou o contratorpedeiro Tartu para proteger seus pescadores, que continuavam atuando de forma ilegal na região.
Sozinho, o Tartu não representava grandes ameaças, mas ele poderia acionar o navio-aeródromo Clemenceau, que a França tinha estacionado na Costa Oeste da África. Quando o embate parecia inevitável, o presidente João Goulart liberou a pesca da lagosta para os franceses. Tamanha foi areação popular que ele teve que voltar atrás. No final, a França aceitou um acordo diplomático, favorável ao Brasil.
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