“É mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra.” Comentários desse gênero se espalharam pelo País no começo dos anos 1940. Fazia todo o sentido. O governo Getúlio Vargas não se decidia. Algumas vezes, pendia para o lado da Alemanha nazista. De outras, parecia inclinado a favor dos Estados Unidos.
Enquanto a calmaria vigorava no Atlântico Sul, Getúlio conseguiu fazer o jogo duplo. À frente de uma ditadura – o Estado Novo –, manteve no Ministério simpatizantes dos dois extremos do conflito. Ao mesmo tempo, tentava fechar acordos comerciais com quem oferecesse mais. A situação mudou depois que navios mercantes brasileiros começaram a ser atacados.
Os primeiros ataques aconteceram em fevereiro de 1942, quando submarinos alemães e italianos afundaram embarcações brasileiras no trajeto de ida e volta dos Estados Unidos. Mais tarde, as agressões chegaram à costa do Nordeste. Em agosto de 1942, um único submarino afundou cinco navios e matou mais de 600 pessoas.
As investidas, desfechadas pelo capitão de corveta Harro Schacht, comandante do submarino alemão U-507, chocaram o Brasil, até porque corpos de homens, mulheres e crianças começaram a chegar às praias do Nordeste. Manifestações contra o nazifascismo eclodiram por todo o País, muitas delas promovidas pela União Nacional dos Estudantes (UNE).
Sem outra alternativa, o governo Vargas declarou guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Um ano depois, em agosto de 1943, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), para lutar na Europa. Na insígnia, os soldados levavam uma cobra com cachimbo. Como lema, um recado aos que duvidavam da entrada do País na guerra: “A cobra vai fumar!”
Outra expressão muito popular no período era “pracinha”, em referência aos rapazes do Brasil que “sentaram praça” na Segunda Guerra Mundial. Pouco mais de 25 mil pracinhas lutaram contra as últimas linhas de defesa nazista na Itália, apesar da inexperiência, da falta de equipamentos e das fardas inadequadas ao inverno europeu. Deles, 454 morreram em combate.
Finda a guerra, a cobra fumou mesmo foi para o lado de Getúlio Vargas e do regime antidemocrático que ele tinha implantado em novembro de 1937. Afinal, nada mais incoerente do que combater pela liberdade no estrangeiro e viver uma ditadura dentro de casa. Não deu outra. O Estado Novo caiu em outubro de 1945.
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