João Havelange e a Olimpíada de 1936

O futuro cartola nos tempos de nadador do Fluminense
O futuro cartola nos tempos de nadador do Fluminense

Aos 100 anos recém-completados e no ostracismo devido ao envolvimento com corrupção, João Havelange costuma ser lembrado pelo futebol e por seus 24 anos como todo-poderoso presidente da Fifa. No esporte, ele só atuou fora do campo. Filho de belgas radicados no Rio de Janeiro (o pai era comerciante de armas), Havelange praticava natação e polo aquático.

Ele era nadador do Fluminense quando embarcou em um navio no Rio para participar da Olimpíada de 1936. Foram 21 dias até chegar ao porto de Bremenhaven, na Alemanha. De lá, seguiu de trem para Berlim. A escolha da cidade como sede dos Jogos aconteceu antes da ascensão do nazismo ao poder. Depois, o Comitê Olímpico tentou mudar, mas não conseguiu.

Adolf Hitler, por sua vez, fez de tudo para transformar a Olimpíada de 1936 em propaganda do regime e da supremacia da raça ariana. Não deu certo. Se por um lado as obras levantadas para os Jogos impressionaram, por outro um atleta negro saiu consagrado do Estádio Olímpico. Era o velocista americano Jesse Owens, que amealhou quatro medalhas de ouro.

Havelange aos 21 anos, nos Jogos de Berlim
Havelange aos 21 anos, nos Jogos de Berlim

Havelange acompanhou tudo de perto. Nos Jogos de Berlim, ele disputou pelo Brasil duas provas de nado livre – de 400 metros e de 1,5 mil metros. Como os outros 93 atletas brasileiros (quatro deles mulheres), não ganhou medalha. Em contrapartida, como toda a delegação brasileira, desfilou impassível diante de Hitler, na abertura da Olimpíada.

“Posso lhe assegurar que nenhum atleta fez a saudação nazista”, escreveu-me Havelange em 7 de novembro de 2011.  Dias antes, eu havia telefonado a seu escritório, no Rio, perguntando exatamente sobre a postura da delegação brasileira, visto que documentários da época mostram atletas de outros países fazendo a saudação nazista ao desfilar diante de Hitler. Vale lembrar que, naquela época, o governo Getúlio Vargas estava repleto de simpatizantes do nazismo.

Na carta que me enviou em 2011, quando tinha 95 anos, Havelange contou que, além da competição em si, considerou como “o momento mais excepcional” dos Jogos a possibilidade de viajar por 15 cidades alemãs, em trem de primeira classe, com desconto de 75% das passagens. Pena que, em sua trajetória, valores e porcentagens tenham ficado cada vez mais importantes – e desviantes. 

Aos 95 anos, Havelange lembrou em carta os Jogos de 1936
Aos 95 anos, Havelange lembrou em carta os Jogos de 1936

 


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