Teori Zavascki, ministro do Supremo, deu um passo que pode ajudar na ação sobre o jornalista Mário Alves. O ministro acaba de autorizar a Justiça a inquirir as testemunhas do sequestro do jornalista, o cara bacana da foto na praia, que está “desaparecido” desde 17 de janeiro de 1970.
Mário Alves foi preso e morto no Rio de Janeiro, mas eu sempre ouvia falar sobre ele em São Paulo, em um clube com um bosque inacreditável, a dois quarteirões da avenida Rebouças. Quem lembrava era o historiador Jacob Gorender, amigo de Mário Alves desde a adolescência na Bahia.
Como Gorender, Mário Alves foi um dos fundadores do PCBR. Ambos foram presos pela ditadura em 1970. Gorender passou o diabo, tentou se matar, mas sobreviveu. Mário Alves foi visto pela última vez no chão de uma cela do Doi-Codi do Rio, massacrado pela tortura, pedindo água.
Gorender já esteve no rol de testemunhas do processo que tenta apontar os responsáveis pelo desaparecimento de Mário Alves. O historiador morreu aos 90 anos, em junho de 2013. Como ele, outras testemunhas do processo sobre Mário Alves são pessoas mais velhas.
“Além da morte, há também forte probabilidade de que venham a sofrer doenças que, com o passar do tempo, comprometam mais e mais a sua memória e o seu discernimento”, argumentou o Ministério Público ao Supremo para ouvir logo testemunhas do sequestro do jornalista.
Sequestro é crime continuado. Os quatro sujeitos acusados de desaparecer com Mário Alves estão soltos por aí. Um deles, Valter da Costa Jacarandá, já admitiu que a tortura era uma prática usual em seu “local de trabalho”, o Doi-Codi do Rio, instalado na rua Barão de Mesquita, na Tijuca.
“Jacarandá reconheceu que havia tortura, mas não admitiu envolvimento na morte de Mário Alves”, conta o jornalista Álvaro Caldas, da Comissão da Verdade do Rio e ouviu Jacarandá em depoimento. Ex-preso político, Caldas foi torturado pela mesma equipe que Mário Alves.
Tanto na primeira quanto na segunda instância da Justiça, a denúncia contra Jacarandá e seus três parceiros não foi aceita. O Ministério Público recorreu, então, ao Supremo, mas a ação está suspensa até a Corte se debruçar de novo sobre a Lei de Anistia.
Por enquanto, a Anistia continua valendo para “os dois lados”. A denúncia do Ministério Público não faz referência à tortura, morte e ocultação do cadáver do jornalista. Fala apenas em sequestro, um crime que só termina quando a pessoa reaparece. Ainda assim, a ação está suspensa. O imbróglio mostra como é difícil a busca da verdade e a reparação histórica.
O jornalista, dos 16 aos 45 anos – Foto: Álbum de Família
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