Entrudo. Parece um palavrão, mas é só o nome da festa precursora do Carnaval no Brasil. Inspirado em práticas medievais, o entrudo não tinha nada a ver com os bailes de máscara da Europa. No Rio de Janeiro, os foliões saíam às ruas para molhar e lambuzar os outros, em princípio com limões-de-cheiro, como eram chamadas as bolas de cera cheias de água perfumada, produzidas especialmente para a ocasião.
O problema é que, em vez de limões-de-cheiro, alguns espirravam outros líquidos, como groselha, café e até mesmo xixi. Para completar, jogavam farinhas, polvilhos ou outro pó que tivessem à mão. Nas ruas, o entrudo era uma brincadeira que reunia apenas escravos ou negros libertos. Uma das mais conhecidas imagens da festa é a aquarela Cena de Carnaval, de 1823, do francês Jean-Baptiste Debret.
Debret não só pintou a aquarela, como descreveu a imagem no livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil: “A cena se passa à porta de uma venda, instalada como de costume numa esquina. A negra sacrifica tudo ao equilíbrio de seu cesto, já repleto de provisões que traz para seus senhores, enquanto o moleque, de serina de lata na mão, joga um jato de água que a inunda e provoca um último acidente nessa catástrofe carnavalesca”.
“Sentada á porta da venda, uma negra mais velha ainda, vendedora de limões e de polvilho, já enlambuzada, com seu tabuleiro nos joelhos, segura o dinheiro dos limões pagos adiantado, que um negrinho, tatuado voluntariamente com barro amarelo, escolhe, como campeão entusiasta das lutas em perspectiva”, continuou Debret.
Coube a outro renomado artista, o inglês Augustus Earle, deixar entre o seu legado uma gravura (acredita-se que de 1822) sobre o entrudo entre integrantes da elite da época. Isso porque parte da elite também entrava na brincadeira, mas dentro de casa. Considerado violento e ofensivo, o entrudo acabou proibido em meados do século XIX.
Deixe um comentário