Parece lenda, mas não é. Assim como cardumes de sardinhas apareceram há pouco em águas cristalinas da Barra da Tijuca, no Rio, milhares de latas com maconha surgiram em praias brasileiras trinta anos atrás. No país recém-saído da ditadura, o episódio acabou conhecido como o Verão da Lata.
Foi uma loucura. Um informe da agência americana Drug Enforcement Administration (DEA), de combate ao narcotráfico, já tinha alertado a Polícia Federal: o navio Solana Star saíra do sudeste asiático carregado de maconha e passaria pelo Brasil, antes de despachar a carga para Miami.
Nem com o apoio da Marinha a polícia conseguiu localizar o Solana Star, que tinha bandeira panamenha e transportava cerca de 15 mil latas de 1,5 kg cada, recheadas com maconha tailandesa. As buscas pelo navio haviam se encerrado quando as latas começaram a flutuar perto das praias.
Logo se espalhou que a maconha da lata tinha um princípio ativo mais forte do que o habitual. “Ela era mergulhada em óleo de haxixe ou da própria cannabis”, explicou Joseph Urbaniak, procurador americano envolvido na investigação, no documentário Verão da Lata, do History Channel.
Urbaniak conta que a tripulação do Solana Star soubera que estava na mira da polícia e lançara toda a carga ao mar, nas imediações de Angra dos Reis. A corrente marítima que passa por ali se encarregou de levar a maior parte das latas para praias cariocas, onde eram “pescadas” até com canga.
Centenas de latas também foram encontradas em praias paulistas e outras tantas em Santa Catarina. Alguns exemplares desgarrados alcançaram o Rio Grande do Sul. No final das contas, apenas 3,3 mil foram apreendidas. Quase 12 mil latas marcaram para sempre o verão de 1987.
Na época, “da lata” virou gíria de coisa boa. Dos sete tripulantes do Solana Star, que havia atracado sem alarde no Rio, apenas um não havia deixado o Brasil quando as latas foram para as páginas dos jornais. Era o americano Stephen Skelton que, preso, argumentou ser apenas o cozinheiro do navio.
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