A ditadura não esperava tanta adesão. Na quarta-feira 26 de junho de 1968, estudantes, artistas, intelectuais, operários, donas de casa, pessoas, enfim, de todos os estilos começaram a ocupar ainda pela manhã a Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro.
Às 14 horas, eles eram cerca de 50 mil e começaram a marchar pela avenida Rio Branco, rumo à Igreja da Candelária, gritando palavras de ordem. No meio da multidão, destacava-se uma faixa com a inscrição “Abaixo a Ditadura – Povo no Poder”.
À medida que encontravam lojas fechadas, os manifestantes apelavam aos comerciantes: “Abram suas portas. Quem quebra é a polícia”. Nem todos os lojistas atendiam aos apelos. Em contrapartida, os que reabriam as portas eram aplaudidos à exaustão.
Às 16 horas, quando chegou nas imediações da Candelária, a passeata reunia 100 mil pessoas. Daquela vez, a repressão recuou. Nos dias anteriores, a truculência policial foi tamanha que o período ficou conhecido como Semana Sangrenta.
Parecia não haver limites para a violência. No final de março, a cavalaria já tinha dado mostras de brutalidade extrema ao atacar aqueles que acompanharam a missa de sétimo dia do secundarista Edson Luís, morto pela repressão no restaurante estudantil Calabouço.
Tanto o ataque da cavalaria quanto a Passeata dos Cem Mil foram objeto de imagens icônicas do fotógrafo Evandro Teixeira, do Jornal do Brasil. Seu trabalho representou tanto para o período que inspirou o poeta Carlos Drummond de Andrade a escrever Diante das Fotos de Evandro Teixeira. Leia trecho do poema:
“Das lutas de rua no Rio
em 68, que nos resta
mais positivo, mais queimante
do que as fotos acusadoras,
tão vivas hoje como então,
a lembrar como a exorcizar?”
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