O português Francisco Bento Maria Targini caiu nas graças do príncipe regente dom João logo depois de a família real desembarcar no Brasil, em 1808, fugindo das tropas comandadas por Napoleão Bonaparte na Europa. Antigo escrivão da capitania do Ceará, nomeado pela rainha Maria I, a Louca, Targini não demorou a responder pelos cofres do império.
Não deu outra. Junto com o posto de tesoureiro-mor, chegou a fortuna. O casarão de Targini, na esquina da rua dos Inválidos com a Riachuelo, no Rio de Janeiro, era um deslumbre. Junto com a fortuna, chegaram também os títulos: agraciado como barão de São Lourenço em 1811, ele foi elevado a visconde em 1819. O que, na sequência, inspirou quadrinha popular:
“Quem rouba pouco é ladrão
Quem furta muito é barão
Quem mais furta e mais esconde
Passa de barão a visconde”
O jornalista Hipólito da Costa, que editava de Londres o jornal Correio Braziliense, não perdia nenhuma oportunidade para propagar a má reputação de Targini. Na origem dos ataques, havia também uma diferença ideológica. O jornalista era liberal, enquanto o tesoureiro-mor defendia que todos os poderes deveriam se concentrar nas mãos do monarca.
Em um determinado momento, os brasileiros ficaram tão enfurecidos com o esquema de corrupção entranhado no reino que ameaçaram invadir o casarão de Targini. Para protegê-lo, dom João VI decretou sua prisão, em uma fortaleza. Nessa época, outra quadrinha associava o tesoureiro-mor ao ministro Joaquim José de Azevedo, visconde do Rio Seco:
“Furta Azevedo no Paço
Tardini rouba no Erário
E o povo aflito carrega
Pesada cruz ao Calvário”
Da Fortaleza Santa Cruz da Barra, onde estava “encarcerado”, Targini embarcou no navio que levaria a família real de volta a Portugal, em 1821. A bordo, ficou encarregado do Tesouro do reino. Foi impedido, no entanto, desembarcar em Portugal, por causa de sua defesa do absolutismo. Seguiu então para Paris, onde morou até morrer, em 1827, aos 71 anos.
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