
A fotografia acima seria apenas o registro de um time de futebol se não fosse a bandeira com a suástica, o símbolo do regime nazista de Adolf Hitler. Deixou estarrecido o fazendeiro José Ricardo Rosa, o Tatão, quando a encontrou, na década de 1990, na Fazenda Cruzeiro do Sul, que ele tinha comprado perto de Campina do Monte Alegre, no interior paulista.
O fazendeiro ficou ainda mais estarrecido quando porcos derrubaram a parede de uma construção antiga e ele viu a mesma marca, a suástica, cravada nos tijolos caídos no chão. Certo de que algo “muito errado” tinha acontecido na fazenda, Tatão chegou a ser ridicularizado por moradores da região, pela insistência em tentar esclarecer o passado.

O documentário Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil mostra como antigos proprietários da Fazenda Cruzeiro do Sul, descendentes do Barão de Bananal, aderiram ao nazismo e ao integralismo nos anos 1930 e 1940. Na mesma época, eles submeteram 50 meninos negros a trabalho escravo em uma fazenda vizinha, a Santa Albertina.
Os meninos tinham em torno de dez anos e viviam no orfanato católico Romão de Mattos Duarte, no Rio de Janeiro, quando os mais fortes foram escolhidos por um visitante que jogara balas ao alto e os estimulara a pegá-las. “Era que nem gado que o comprador ia comprar”, compara Aloísio Silva no documentário, quase 80 anos depois de ser levado para a fazenda.
Chegando à fazenda, os meninos eram numerados pela ordem de tamanho. Aloísio era chamado de 23. Ele fica visivelmente revoltado ao recordar o passado, permeado por trabalho e palmatória. Sua história começou a ser desvendada quando Suzane, enteada do fazendeiro Tatão, assistia a uma aula sobre o nazismo e falou sobre os tijolos da Fazenda Cruzeiro do Sul.
Na aula seguinte, a estudante precisou levar um tijolo para que os colegas acreditassem nela, mas o professor, Sidney Aguillar Filho, já havia mergulhado na pesquisa. Acabou virando tese de dourado, que ele defendeu na Unicamp: “Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-1945)”.
O documentário Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil, dirigido por Belisario Franca, relata toda a história, com base no trabalho de investigação do professor Sidney Aguillar Filho.
A tese de Aguillar Filho pode ser acessada neste link.
Para assistir ao trailer de Menino 23, basta clicar no vídeo:
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