Conjunção infeliz

Foto: Hélio Campos Mello
Foto: Hélio Campos Mello


Operários
, tela emblemática que Tarsila do Amaral pintou em 1933, abre a reportagem de capa da Brasileiros de agosto. O assunto é a crise político-econômica que o Brasil atravessa e que, entre outras más notícias, já levou o desemprego para a casa dos oito milhões. 

A nefasta conjunção de um governo que não governa – ameaçado de impeachment pelas suas contas no TCU e no TSE e portador de aprovação popular minguante – com uma oposição exacerbada e predadora, está jogando no lixo conquistas sociais fundamentais dos últimos anos. 

Atemorizada com as ameaças de rebaixamento no ranking de investimento das agências de risco e pressionada pelo mercado, a presidenta Dilma fez correções de rumo na economia que têm se mostrado, no mínimo, desastradas. 

Para Pedro Celestino, candidato de consenso à presidência do influente Clube de Engenharia, o “ajuste fiscal sem crescimento não funciona. Não há possibilidade de arrumar a economia com elevação da taxa de juros absurda e com aumento da carga fiscal também absurda. Essa é a receita do desastre”. 

No vácuo deixado pelos poderes Executivo e Legislativo, cresceu desmesuradamente o Poder Judiciário. A corrupção entrou na mira, o que é bom – melhor se não houvesse o viés político e seletivo –, mas o País parou, o que é péssimo. Não se pensou em como manter empregos e contratos nas empresas investigadas. Elas compõem a indústria responsável por parcela significativa do PIB. Na Alemanha, em 2007, a Siemens também foi acusada de corrupção e as providências lá tomadas deveriam servir de exemplo para o Brasil – multas bilionárias, demissões dos diretores e eventuais prisões dos culpados, mas a empresa continuou o seu trabalho com seus contratos, empregos e competitividade preservados. Aqui, nosso protagonismo internacional vai rapidamente se esvaindo. O País parece estar sob ataque. 

Isso tudo causa profunda perplexidade. Principalmente em quem não foi infectado pelo vírus do ódio e da intolerância que se espalha. O que também é digno de profundo espanto.

Um entendimento foi ensaiado entre governo e oposição – tarde, diga-se, pois já devia ter sido feito quando, tanto PSDB como PT tinham os melhores quadros da política brasileira, coisa que já não acontece –, mas foi abortado por vazamentos à imprensa. Mesmo assim, novas tentativas devem ser feitas.

Hoje, o Brasil está menos alegre. Como os rostos da obra de Tarsila.


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