Democratas sonham

Foto: US Embassy / Fotos Públicas (04/11/2010)
Foto: US Embassy / Fotos Públicas (04/11/2010)

Pode ser que o candidato republicano à Presidência americana seja um iludido. Donald Trump imagina que seu sucesso seja maior do que a realidade aponta. Porém, ele não está sozinho nessa percepção confusa. O Partido Democrata também embarca na mesma canoa furada. Uma ala significativa da agremiação acredita que seja possível ganhar, além da Casa Branca, o imóvel do outro lado da Pennsylvania Avenue: o Congresso americano. Apontam como arma a rejeição de Trump pelo eleitorado, especialmente homens com curso superior e mulheres brancas- tradicionais votantes conservadores. Teoricamente, essa gente irá cravar o nome de Hillary na cédula e seguir na linha democrata até o final da lista de candidatos ao Senado e à Câmara.

São sonhos das noites de verão. Em primeiro lugar porque nem se sabe ainda se Trump não ganhará. Nas duas últimas semanas ele subiu 2 pontos percentuais nas pesquisas. Caso continue assim, até 8 de novembro, quando as urnas abrem e fecham, terá conseguido a maioria dos eleitores. Agora encarnando sua versão de “Trumpzinho paz e amor”, apelando a negros, hispanos e classe média educada, prometendo compaixão no programa de deportação de imigrantes ilegais e firmeza em ações de lei e ordem pública, o republicano espera retomar os votos conservadores moderados que o abandonaram. Quem viver verá se a estratégia deu certo. Mas mesmo que fracasse, não se pode dizer que os democratas pegarão sequer a maioria no Senado, onde lhes faltam seis partidários para isso.

Para se ter uma ideia da falta de relação entre Trump e candidatos republicanos ao Senado, basta colher o exemplo da Flórida. Clinton está com 6 pontos de vantagem sobre seu rival nesse Estado. No entanto, o candidato republicano Marco Rubio nada de braçada com 13 pontos percentuais sobre o democrata Patrick Murphy. A lista de possíveis vitórias do Partido Republicano segue firme, mesmo em Estados que praticamente já estão do lado de Hillary.

Mas se o Senado é uma trabalheira de ladeira acima para os democratas, a Câmara é missão para o Tom Cruise: impossível. Imagina-se nos confabulários do partido que nos distritos tradicionalmente republicanos, como nos subúrbios de San Diego, na Califórnia, por exemplo, os eleitores vão virar casaca por causa de Trump. Sonhar, afinal, não paga imposto. As pesquisas apontam que nem mesmo uma avalanche de votos para Clinton é algo garantido, quanto mais a vitória de candidatos de seu partido. Como diz o outro: “Toda política é local”. Pode ser que elejam Hillary, mas querem ver alguém mais familiar no legislativo.

Isso tudo significa que, mesmo ganhando a eleição, a presidente Hillary Clinton pode enfrentar a mesma oposição intransigente que atazanou a vida de Barack Obama. O programa do governo Clinton, como o de seu antecessor, seria podado, não como um bonsai, mas como a Mata Atlântica brasileira sob a ação das motosserras. Ainda mais agora que o partido fez promessas muito mais à esquerda do que desejava. Bernie Sanders, e sua “revolução socialista” colocou não apenas seus dedos na plataforma partidária, mas as duas mãos e enterrou até os cotovelos. Nem Hillary- sempre mais à direita na agremiação- concorda com tudo o que foi injetado no documento, imagine-se o Tea Party no Congresso. Pelo visto serão mais quatro anos de cabo de guerra.


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