Quinta-feira, 19 de março de 1964

Cena de apoio aos que marchavam contra o presidente na capital paulista.
Cena de apoio aos que marchavam contra o presidente na capital paulista.

No dia de São José, padroeiro da família, uma multidão ocupou as ruas de São Paulo. Era a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, com concentração em frente a uma placa em memória de combatentes da Revolução de 1932. A guerra do passado teve como meta derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas. Em março de 1964, quem se encontrava na alça de mira era o presidente João Goulart, herdeiro político de Vargas. Não por acaso, alguns cartazes exibiam a inscrição “32+32=64”.

Um senador da conservadora UDN, o padre Calazans, estava ao microfone quando a marcha chegou à Praça da Sé. Depois de lembrar São José, ele mandou ver. “Fidel Castro é o padroeiro de Jango. É o padroeiro dos comunistas”, disse o padre senador. “Aqui estão mais de 500 mil pessoas para dizer ao presidente da República que o Brasil quer a democracia, não o tiranismo vermelho.” Foi aplaudido à exaustão.

A chegada de dona Leonor, mulher do governador paulista, Adhemar de Barros, também foi aplaudidíssima. O marido, amante das alturas e das conspirações, preferiu acompanhar a marcha a bordo de um helicóptero. Mas não faltou político na Praça da Sé. O presidente do Congresso Nacional, Auro Soares de Moura Andrade, foi o último a falar.

“Democratas do Brasil, confiem, não desconfiem das gloriosas Forças Armadas de nossa pátria”, apelou o presidente do Congresso em seu discurso. “Dentro de cada farda, não está somente um corpo, mas também uma consciência e um juramento feito.” Depois, parte dos manifestantes entrou na catedral, para assistir à missa.

Embora uma quantidade inédita de pessoas tenha saído às ruas, a polícia política teve pouco trabalho durante a marcha. Seis pessoas foram detidas, por estarem bêbadas. Denunciados por “transeuntes”, dois rapazes também foram detidos. Estavam com o carro cheio de ovos de galinha. Não, não pretendiam, atirá-los na multidão. Eram apenas entregadores, a caminho de um supermercado.

Ao contrário da polícia política, os músicos da banda da Força Pública suaram o uniforme. A música mais executada naquela tarde foi, sem dúvida alguma, Paris Belfort. Em 1932, ela havia se tornado o hino não oficial da Revolução Constitucionalista, depois que a Rádio Record passou a usá-la a abertura de suas transmissões sobre o conflito. Como 32+32=64, tornou-se também o tema musical da Marcha da Família com Deus pela Liberdade.

Confira Paris Belfort, o hino não oficial da Revolução de 1932:


Comentários

Uma resposta para “Quinta-feira, 19 de março de 1964”

  1. Isso que é contrarevolução, todas as classes apoiaram. A revolução foi democrática, à população pedia pela intervenção. A marcha da família com deus pela liberdade, deixou claro que o comunismo precisava ser combatido.

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