Neste sábado fui com meu filho participar das “Portas Abertas” de uma escola de engenharia que fica a uma hora de Paris. Um pequeno campus nas proximidades da cidade de Compiègne, um pólo de excelência em pesquisa e ensino das diversas áreas da engenharia. Lá encontramos jovens de 18 a 24 anos, em suas camisetas laranja com o logo do estabelecimento, explicando-nos como era a vida no campus e as particularidades desta escola que reúne em seu programa tendências internacionais de ensino. Todos nos pareciam contentes de estar ali, empenhados em seus estudos, quase certos de encontrarem trabalho na saída, mas sobretudo abertos ao encontro.
Ali, o ensino científico é apoiado pelas ciências sociais, línguas, estudo do direito, do impacto da ciência na vida humana. Busca-se integração das diversas áreas do saber. E pelo jeito, isto produz sorrisos nos rostos destes jovens.
Naquele mesmo sábado, já de madrugada, os 195 países reunidos na COP21 de Paris assinavam enfim um acordo inédito. A meta dos 2°C foi atingida, tendendo até para 1,5°C. Todos dizem: é incrível, mas tudo ainda está por fazer. As ONGs gostariam de ter conseguido mais, pois é realmente estarrecedora a lentidão com que as medidas vão sendo pouco a pouco tomadas, e enquanto isto ilhas vão sendo engolidas pelo mar e ursos polares vogam perdidos em seus pedaços de iceberg. Mas talvez o mais importante tenha sido alcançado: a consciência de que precisamos inventar um novo mundo.
Na capa da revista francesa Society desta semana, vê-se o jovem Paul Duan, 23 anos, um filho de imigrantes chineses crescido na França, em uma periferia que poderia ser uma “Osasco” daqui. Estudante em Ciências Políticas, gênio em matemática, Paul montou uma startup-ONG na Silicone Valley e trabalha atualmente em uma plataforma open-source de conexão entre desempregados e empregadores que deve reduzir em 10% a taxa de desemprego na França, e em outros países que desejarem utilizá-la (gratuitamente !). Como retorno por este trabalho, ele solicita dons e pleiteia somente um bom salário para seus engenheiros. Isto é : ele não pretende lucrar com isto ! Ele trabalha pelo Bem Comum.
Não é isto finalmente que está em jogo no movimento de ocupação das escolas públicas no Brasil ? Um ensino de qualidade para todos? A derrubada das diferenças sociais ditadas pela diferença entre o ensino público e o privado?
Imaginem então um novo mundo regido pela noção de Bem Comum!
É então que me aparece a noção de “Juventude”. Aquela gana, aquela garra, a vontade que a gente tem de mudar o mundo, a certeza de que nós enxergamos para além do estreito horizonte dos nossos pais, porque temos a vida pela frente. Vida longa e linda, que vamos atravessar de cabeça erguida, e para isto, queremos construir uma estrada verdejante para por ela passarmos com alegria e esperança.
Sim, ser jovem é aprender a acreditar em si, é deixar de ser dependente do que já era. É não temer o futuro, porque ele está em construção e será diferente de tudo o que já se fez, novinho em folha, vicejante. Ser jovem é ter brilho nos olhos, coragem no peito, sonhos na alma. E com Belchior digo, “Você não sente nem vê, Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, Que uma nova mudança em breve vai acontecer”.
*Adriana Komives, brasileira de origem húngara, 51 anos, 31 em Paris onde estudou cinema e exerce desde então as profissões de montadora e roteirista. Consultora em montagem de documentários nos Ateliers Varan, la Femis, DocNomads, ensina o ofício de montagem no Institut National de l’Audiovisuel e roda o mundo trabalhando em oficinas de realização documentária.
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