MARY WOLLSTONECRAFT SHELLEY (1797-1851)
Filha de um pensador liberal e uma feminista, e mulher do poeta romântico Percy Shelley, a londrina Mary ficou conhecida principalmente pelo livro Frankesntein, uma das criações mais populares da literatura e, depois,também do cinema, teatro, quadrinhos, TV etc. A história do cientista louco que dá a vida a um cadáver remendado foi criada depois de um desafio lançado por Lord Byron, amigo do casal, com quem eles passavam férias na Suíça. O vencedor do desafio seria aquele que escrevesse o melhor conto de terror. Mary ganhou com sobras: não apenas escreveu sobre o doutor que rouba o fogo vital dos deuses, como tomou para si a tocha criativa dos homens. Hoje ela é reconhecida também por todo restante de sua obra, que inclui outros romances, e por seu ativismo radical, que preconizava maior poder para as mulheres.
EMILY DICKINSON (1830-1886)
Era a grande reclusa, viveu na solidão e na poesia. Talvez por isso, seus versos sejam tão especiais, antecipatórios de muitos procedimentos da literatura moderna. Tudo o que criava era absolutamente original, com um poder de síntese único, uma profunda concentração de sentido e emoção. Não se fixava a regras e formatos. Escrevia textos breves, quase hai-kais em essência. E elaborava temas como a morte, o isolamento e a própria criação com um grau de sofisticação que deixa o leitor entre maravilhado e aturdido. Publicou cerca de dez poemas em vida. Depois foram descobertos por volta de 1.700, além de centenas de cartas. As melhores traduções em português foram feitas por Augusto de Campos, como nesse poema, em que zomba da ideia de fama (e que soa muito atual, se pensarmos no narcisismo disperso nas redes sociais):
Não sou Ninguém! Quem é
você?
Ninguém – Também?
Então somos um par?
Não conte! Podem espalhar!
Que triste – ser – Alguém!
Que pública – a Fama –
Dizer seu nome – como a Rã –
Para as almas da Lama!
VIRGINIA WOOLF (1882-1941)
Primeira-dama do fluxo de consciência, Woolf impôs um padrão tão alto na literatura, que talvez nunca venha a ser superada (além de ser, certamente, uma das escritoras mais influentes para qualquer um que se arrisque no ramo) . Ao mesmo tempo em que escreve frases de grande beleza, suave e ondulante, revela a complexidade e sutileza do pensamento de seus personagens de forma desconcertante. Pensamos: como é possível? Parece não existir segredos da alma humana que ela não conhecesse e não soubesse expressar com elegância e clareza. Basta ler Mrs Dalloway ou Rumo ao Farol para se dar conta de seu talento sobrenatural.
HANNA ARENDT (1906-1975)
Uma das pensadoras mais brilhantes de qualquer época, cunhou a expressão e o conceito de “banalidade do mal” ao cobrir o julgamento do nazista Eichmann em Jerusalém para a revista New Yorker. Judia alemã, ela mesma perseguida e confinada num campo de concentração, soube deixar a paixão de lado e ver na figura do réu um sujeito absolutamente medíocre, símbolo de uma sociedade que, sem imaginação ou capacidade crítica, deixou-se levar pelo discurso do ódio. Depois de seu achado, muitos experimentos da psicologia moderna mostraram como as pessoas tendem a seguir a maioria, mesmo que, no fundo, discordem de como estão agindo. Há exceções, claro, como podemos ver em todos os movimentos anticonformistas: além de abrir brechas para alguma esperança na humanidade, são casos que só aumentam a importância e originalidade da reflexão de Arendt, que pode ser aplicada em inúmeros casos na política e vida social, como, por exemplo, a corrupção endêmica que enche de manchetes os nossos jornais, ou a matança indiscriminada de negros pobres em todo o Brasil por uma polícia preconceituosa e despreparada.
MARTHA GELLHORN (1908-1998)
Uma das maiores correspondentes de guerra no século 20, a americana Gellhorn esteve nos campos de batalha na Espanha dividida, em 1937, na China, na Segunda Guerra Mundial, cobriu a a guerra do Vietnã, a Guerra dos Seis Dias e vários conflitos na América Central. Foi também casada com Hemingway, mas quem lê A Face da Guerra, reunião de
seus textos jornalísticos (também foi contista e romancista) percebe que ela não ficava nada a dever ao marido famoso. Como disse o Guardian, há uma honestidade dura em suas reportagens, que também deixavam entrever a compaixão diante do sofrimento daqueles que retratava e seu posicionamento como pacifista em face ao terror que testemunhava.
CLARICE LISPECTOR (1920-1977)
Outra autora completamente original, do tipo que faz com que o leitor agarre com admiração seus livros ou os largue com preguiça diante de seus enigmas. E aqui faço questão de dizer: não há literatura fácil ou difícil; o que há é a capacidade ou não de um escritor encantar seu leitor. Pessoalmente fico encantado com a beleza misteriosa de seus romances e contos, mesmo quando não “entendo” o que ela quer dizer. Acho que, aqui e em muitos casos (é só pensar em como é estar apaixonado) o verbo gostar pode perfeitamente prescindir do verbo entender – talvez até deva. Também gosto muito de suas crônicas e cartas, como as que escrevia para o amigo Fernando Sabino. Um exemplo: “(…) como é que você me pergunta o que eu faço às três da tarde? …Às três horas da tarde sou a mulher mais exigente do mundo. Fico às vezes reduzida ao essencial, quer dizer, só meu coração bate. Quando passa, vêm seis da tarde, também indescritíveis, em que eu fico cega.”
WISLAWA SZYMBORKA (1923)
Minha poeta favorita. Ganhou o Nobel em 1996, mas isso só importa na medida em que a tornou conhecida no mundo (já que o polonês, sua língua, não é muito traduzido, infelizmente). Ela publicou pouco, o que mostra o nível de exigência consigo mesma. Seus poemas são aparentemente simples, mas no fundo muito elaborados; são irônicos, mas também comoventes; e têm o poder de ecoar na lembrança do leitor por muito tempo.
Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já se perde no passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
suprimo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não ser.
Como o tempo e o espaço ficaram curtos, vou apenas citar algumas outras escritoras que me marcaram bastante: Muriel Spark, Susan Sontag, Joan Didion, Janet Malcolm, Ana Cristina César, Hilda Hilst, Simone de Beauvoir e as contemporâneas Chimamanda Ngozi Adichie e Valéria Luiselli, entre outras.
Essa mulheres maravilhosas e seus livros voadores
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