A Nasa anunciou nesta segunda-feira (28) a descoberta que o nosso planeta vizinho, Marte, pode não ser o deserto que há tanto acreditava ser. Segundo estudo recém-publicado na Nature Geoscience, manchas escuras e declives observados na superfície marciana pelo satélite Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) indicam que há água corrente por lá. No entanto há uma data para isso acontecer – durante os meses de verão marciano.
Tais manchas são evidências de declives associados a depósitos de sal. A explicação é que tais depósitos podem alterar os pontos de congelamento e evaporação da água, fazendo com que ela fique líquida por tempo suficiente para se mover. Sem isso, a água congelaria nas baixas temperaturas do planeta.
E o que isso significa? O Professor Dr. Flavio Alterthum, titular de microbiologia aposentado do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, responde: “A probabilidade de que há vida no planeta agora aumenta bastante”.
“A existência de água está intimamente associada à vida, significa que vai ter vida? Não necessariamente. Mas a probabilidade agora aumenta bastante. Isso no que diz respeito a ideia de vida que temos de um ser vivo de acordo com os nossos conceitos terráqueos que é um ser a partir de uma célula, a unidade fundamental. Uma célula é composta de 70% de água”, explica em entrevista concedida a Brasileiros.
Segundo Jim Green, diretor de ciência planetária da Nasa, tais manchas que indicam a presença de água contemporânea se formam no fim da primavera, aumentam no verão e somem no outono a medida que a temperatura da superfície cai. “Por 40 anos não pudemos explicar por que elas existiam”, disse em coletiva de imprensa.
Os cientistas ainda não têm certeza da origem da formação da água, mas há a possibilidade de ela se formar a partir de aquíferos salgados ou da condensação da fina atmosfera marciana.
E agora, podemos colonizar Marte?
A ideia de levar seres humanos ao planeta vermelho pode soar à primeira vista um tanto absurda. Mas vale lembrar que a Nasa tem planos concretos de fazer isso valer além do cenário de ficção científica e tem data para isso: 2030. Outras iniciativas também colocam em perspectiva a habitação de Marte.
Pois a recente descoberta de água contemporânea no país vizinho deve endossar missões humanas até lá.
“É algo muito interessante e vai dar ainda muito o que falar. A partir dessa informação passa a ter um significado ainda maior ter encontrado água, pois isso significa que seres humanos possam ir para lá”, diz Alterthum.
E mesmo em condições extremas há a possibilidade de existência de microorganismos, ressalta o professor. “Já se sabe há muito que microorganismos conseguem viver nas condições menos imagináveis. São os extremófilos, microorganismos que vivem em altas temperaturas, como aqueles que vivem no interior dos vulcões. Existem bactérias que vivem na presença de ácido sulfúrico, que chamamos de PH extremamente ácido e, no entanto, conseguem sobreviver e se multiplicar. Então por que não habitar em uma situação marciana? Na terra há oxigênio, nitrogênio e outros gases que proporcionam a condição da vida como conhecemos. Mas existem microorganismos que vivem em situação privada de oxigênio. As primeiras bactérias que existiram na Terra foram os extremófilos”, explica.
Alfred McEwen, membro da equipe do satélite MRO e professor de geologia planetária na Universidade do Arizona, defende que a água encontrada em Marte é mais salgada do que a dos oceanos da Terra. De acordo com o pesquisador, ainda não foi encontrada água parada no planeta, mas sim camadas finas de solo molhado.
Algumas das primeiras missões a Marte já haviam revelado evidências de que o planeta abrigou água no passado.
No início desse ano, a agência espacial americana revelou que um vasto oceano pode ter coberto metade do planeta no hemisfério norte em um passado distante, mais precisamente 1,5 bilhão de anos. Com o tempo, a atmosfera de Marte se tornou mais fina, e a queda na pressão do ar fez com que mais água fosse perdida.
De acordo com o chefe da equipe científica da Nasa, Marte já foi um planeta muito semelhante a Terra, com mares salgadas e mornos e lagos de água fresca. “Mas algo aconteceu com Marte, que perdeu sua água. Será que já houve vida no planeta e podemos descobrir isso?”, disse durante coletiva de imprensa.
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