As constantes propagandas de cursos de português nos ônibus, nos postes e nas praças, uma música brasileira entoada em qualquer horário do dia pelas ruas de bairro ou tocadas quase que a exaustão nos bares noturnos e a facilidade em encontrar camisas de clubes do Brasil sendo vendidas ou vestidas por toda Montevidéu insinuam que a presença do nosso País no Uruguai nunca foi tão grande como agora. A capital uruguaia vai, aos poucos, sendo tomada pelos “brazucas”, como nos chamam os uruguaios.
Mais do que impressão, a invasão brasileira em um de nossos vizinhos pode ser visualizada em números: o último dado do Ministério do Turismo uruguaio mostra que, comparando janeiro de 2014 com o mesmo mês deste ano, o número de turistas daqui que viajaram para o país cresceu 20,3%, passando de pouco mais de 50 mil no ano passado para 60.200 em 2015, ficando apenas atrás dos argentinos, que têm a facilidade de estar há uma hora de carro ou barco da fronteira.
Os turistas em geral que vão ao Uruguai costumam fazer uma rota comum, começando por Montevidéu, a capital e principal cidade, com 1,5 milhão de habitantes, passando por Punta del Este, balneário repleto de mansões e lojas de artigos de luxo, até Colônia del Sacramento, na outra ponta do território uruguaio, “em frente” a Buenos Aires, conhecida pela áurea romântica das suas ruas de pedra e pela arquitetura portuguesa, que se instalou ali nos últimos anos da colonização na América.
Montevidéu, no entanto, vem superando as rivais em número de visitantes. No ano passado, foi a cidade mais visitada em três dos quatro trimestres do ano, perdendo apenas nos primeiros meses do ano pela motivação óbvia do verão, que movimenta as praias de Punta. No total geral, a capital recebeu cerca de 843 mil turistas em 2014, enquanto o balneário famoso registrou aproximadamente 576 mil visitantes. A principal vantagem montevideana sobre as “rivais” do turismo uruguaio é um fator relativamente novo: os cruzeiros, que levam 206 mil pessoas ao Uruguai no ano passado e que sempre desembarcam na cidade. Neste caso, a proporção brasileira tem um papel decisivo para o crescimento do turismo de pessoas do nosso País ao vizinho.
“Os brasileiros são os turistas mais alegres: descem dos navios e chegam nas ruas da Ciudad Vieja dando risada, falando alto, comprando tudo. É uma energia incrível”, conta a vendedora Aurore Betini, que trabalha no bairro boêmio mais visitado por quem chega a Montevidéu.
A descoberta de Montevidéu por parte dos brasileiros, no entanto, é parte de um conjunto de mudanças do próprio Uruguai. Nos últimos anos, o país vizinho ficou popularizado pela legalização da maconha e liberação do aborto, pela vida “comum” do seu ex-presidente, José “Pepe” Mujica, pelo retorno da fama dos jogadores de futebol e pelo redescobrimento de alguns escritores uruguaios, como Mario Benedetti. A capital, por sua vez, reúne todas essas transformações em possibilidades práticas: Montevidéu está repleta de grow shops – lojas que vendem utensílios para usuários de cannabis -, seminários e congressos médicos sobre aborto, é a cidade em que vive (e onde é possível encontrar numa rua qualquer) Mujica e onde os apaixonados pelo futebol do país têm uma série de passeios, como conhecer o estádio Centenário, palco da final da Copa de 1930.
A reportagem de Brasileiros passou uma semana em Montevidéu em março último e conta, em 50 imagens, o melhor para ver na capital mais charmosa do Cone Sul (o elogio é por nossa conta):
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