Após o massacre na igreja metodista da comunidade afro-americana em Charleston, na Carolina do Sul, que deixou 9 mortos, Jon Stewart fez seu Daily Show na noite de quinta-feira (18) sem piadas.
Logo no monólogo de abertura, o apresentador anunciou que iria falhar no seu trabalho de criar piadas para as notícias do dia. “Não tenho nada para vocês hoje”.
No melhor momento de sua fala, Stewart foi direto ao ponto que o mais incomoda no massacre de Charleston: a disparidade das reações entre um crime de ódio racial praticado por um norte-americano e um ataque terrorista feito por estrangeiros. “Se isso tivesse sido um ‘ataque terrorista islâmico’ invadiríamos dois países, gastaríamos trilhões de dólares e milhares de vidas. (…) Tudo para manter a América a salvo. Torturaríamos pessoas. Nove pessoas mortas em um igreja. O que fazemos? Um louco, né?”.
Stewart acertar em cobrar da imprensa que tenta tratar o caso como obra de uma loucura solitária, uma simples tragédia. “Aquilo não foi um tornado, foi racismo. (…) Não acredito no quanto algumas pessoas trabalham para atenuar o fato”.
Após o monólogo, o apresentador seguiu o programa direto para o segmento da entrevista do dia. Por coincidência, a convidada da noite era Malala Yousafzai, a menina que teve coragem de enfrentar o Talibã e tomou um tiro na cabeça por isso.
A postura de Stewart pode parecer uma atitude quase sem valor, mas é um posicionamento forte do programa, que está na sua última temporada com ele no comando.
Quer uma comparação? Nem mesmo quando Stewart abriu o primeiro programa após os ataques terroristas de 11 de setembro com um longo monólogo de pesar, ele deixou de colocar piadas nos quadros seguintes. Tudo bem, já era 20 de setembro, mas ele poderia ter tomado uma decisão parecida.
Dessa vez, ele poderia ter ignorado o tópico, aproveitado “melhor” um de seus últimos shows, mas não deixou passar. Sua presença no programa fará falta.
Assista a íntegra do monólogo de abertura do Daily Show de quinta-feira:
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Um ótimo texto no Times busca a resposta para pergunta: Por que não chamar o tiroteio na igreja de terrorismo? (Spoiler: a definição de terrorismo se encaixa perfeitamente ao que ocorreu em Charleston).
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