Corazón Aquino foi a primeira mulher a governar as Filipinas. Substituiu o ditador Ferdinando Marcos e em sua presidência enfrentou sete tentativas de golpe. Ela assumiu o poder em 1986 e governou até 1992. Alguém sabe como o Jornal Nacional a denominava? A resposta não é óbvia. O mesmo vale para inúmeros jornais, como veremos depois.
Quando Dilma Rousseff elegeu-se em 2010, ela resolveu que seria chamada de Presidenta. Assim mesmo, no feminino. Por ter sido a primeira mulher a exercer o cargo é óbvio que o termo parecia errado. Embora a palavra exista em português desde o século XIX e seja registrada pelos grandes dicionários da Língua, a imprensa nativa se recusou a chamá-la assim.
Seria pura descortesia se não se tratasse da misoginia congênita de ver a instituição do poder executivo como algo naturalmente masculino.
A batalha midiática foi ganha de tal forma que uma futura presidenta de um tribunal superior rejeitou o termo por “amor à língua portuguesa”. Os jornais chegaram ao cúmulo de “corrigir” os articulistas que resolvessem grafar a palavra no feminino. Eu sou um deles.
Argumentou-se nos jornalões brasileiros que o vocábulo não era usual. Mas eu me permito aqui desmontar essa falsidade com um único fato. Assim como sempre o fazia e continuou a fazer, em 2 de outubro de 1986 a Folha de São Paulo escreveu “A presidenta Corazon Aquino”… E nos telejornais este era o substantivo feminino usual.
Escrevo antes do ato final da comédia parlamentar. Dilma Rousseff tende a ser condenada a uma pena de morte política com base em pretextos que seriam exagerados até para dar uma advertência a um amanuense do Palácio do Planalto. Contudo, antes de lhe tirarem o poder, arrancaram-lhe o nome.
Caberá à história lhe devolver o que é dela. E já começou. Para desespero de políticos profissionais, serviçais dos media e juízes parciais, os “historiadores pela democracia” (veja-se o livro organizado por Hebe Matos – Alameda Editorial) se posicionaram desde o início contra a nova roupagem dos golpes latino-americanos. Intelectuais, artistas e a maior parte da imprensa internacional não reproduzem o pensamento único dos meios de comunicação daqui.
O golpe de Estado foi sentido pela mídia local. Alguns editoriais cínicos já falam hoje em acusações frágeis sob um rito “constitucional”. Mas agora Inês é morta. Foi violado o único princípio consensual que garante uma democracia: o respeito às regras do jogo. Depois de quatro derrotas eleitorais, a Direita brasileira chega ao poder sem votos. Vai governar sim, mas não espere que as coisas voltem a ser como antes. Não se acorda impunemente depois de uma noite de traições.
E quando o povo brasileiro despertar deste pesadelo,irá a Porto Alegre buscar uma mulher que acertou e errou. Mas cujo maior crime foi ousar lutar e ousar vencer.
A História a chamará pelo seu nome: Presidenta Dilma!
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