Na noite de domingo, dia 7 de maio, reunimo-nos em casa de amigos para não estarmos sozinhos caso “o pior acontecesse”. A dona da casa estava com um nó no estômago de medo de vermos a Presidência da França em mãos do Front National. O dono da casa ofereceu um “Spritz”, bebida italiana da região de Veneza e brincou que se Marine Le Pen passasse não poderíamos mais beber coquetéis europeus…
Desde o dia do debate Macron x Le Pen, os espíritos tinham se acalmado pois Marine mostrou-se tão inepta e malvada que os cidadãos de boa vontade deram por ganha a eleição para Macron. Porém, ainda pairava a sombra da dúvida às 19h30 deste domingo chuvoso e cinzento em Paris.
Macron ganhou a eleição. Assim foi.
Quero um instante acreditar que isso é uma vitória. A vitória da abertura política contra a em-si-mesmice nacionalista. A vitória da democracia plural contra a burrice xenófoba. A vitória da cortesia contra o escárnio. A vitória da Europa humanista contra o cada-um-por-si e Deus por ninguém.
Uma vitória da humanidade contra a tentação obscurantista que nos assombra.
Hoje pela manhã, o velho presidente Hollande e o novo presidente Macron participaram da cerimônia do armistício da II Guerra Mundial. Senti emoção ao ouvir o canto dos partisanos, os resistentes que venceram corpo à corpo a ocupação nazista neste país. Imaginei, por um instante, Marine Le Pen no lugar do Macron, e seria de uma incoerência terrível… Não há resistentes que possam aderir ao seu projeto…
Diante da televisão, porém, víamos no domingo à noite os mesmos rostos marcados da política de sempre, uns jogando na cara dos outros que quem-sabe-melhor-sou-eu. Emmanuel Macron está ainda longe de ter conquistado a França, apesar de eleito presidente.
De fato, a abstenção foi em torno de 25%, os votos brancos e nulos outros 8%. Dos votos expressos (66%), 44% para Macron, 22% para Le Pen. Destes pró-Macron, uns 14% não eram de adesão ao seu projeto, mas de barragem ao Front National. Sobram 30% para o Macron. O que não consiste uma maioria…
Em junho, novas eleições importantíssimas determinarão se o movimento de Macron, “En Marche”, conseguirá a maioria para governar. A batalha se anuncia ferrenha, pois a direita dos Les Republicains pretende ganhar essa maioria, bem como a esquerda de Jean-Luc Mélenchon que reuniu 7 milhões de eleitores no primeiro turno.
Se Emmanuel Macron for diplomata o bastante para negociar um entendimento com a esquerda e a direita, talvez realmente a França consiga entrar numa nova era política. Se ele se aliar à esquerda, talvez a ecologia, a transição energética e o valor da cooperação se imponham, mudando o perfil deste país que anda sofrido. Se a direita se impuser, continuaremos cavando o fosso das desigualdades e, em 5 anos, o Front National poderá se impor como solução falsamente milagrosa.
Mas daqui até lá, muita água vai rolar. Que leve embora o ranço de um passado medonho e as raízes de um sistema falido.
Vive la République. Vive la France.
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