Manual do perfeito midiota – 18

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O desaparecido deputado Ulysses Guimarães popularizou a expressão “casuísmo” para definir as propostas oportunistas que tentavam driblar a Constituição para garantir benefícios a este ou àquele partido político.

Uma ironia da História é que o partido que ele fundou adotou o casuísmo como princípio basilar de sua estratégia. Mas uma das características da midiotia é a dificuldade para perceber ironias. Por isso, é importante assegurar que você entenda como os casuísmos vão compondo uma determinada interpretação da realidade, consolidando a visão de mundo imposta pela mídia hegemônica.

Portanto, se você começar a entender as ironias presentes no noticiário político desta semana, tome cuidado: você pode estar se afastando da condição de midiota. E, como se sabe, quando você deixa de ser um midiota, o mundo começa a parecer mais complicado.

Cuidado com os armadilhas que o noticiário te prega. Foto: Ingimage
Cuidado com as armadilhas que o noticiário te prega. Foto: Ingimage

Para começar, falemos da expressão usada por Ulysses: você não acha que ficar vazando supostas denúncias e conteúdos selecionados de delações ainda não homologadas pela Justiça seria um casuísmo típico?

Veja, uma dessas denúncias atinge até o veterano economista Antônio Delfim Netto. Não seria porque ele vem afirmando, de forma contundente, desde janeiro deste ano, que a proposta de impeachment é um projeto de golpe? E olhe que de golpe ele entende…

Outra coisa, que beira o campo da ironia: você não acha que os supostos juristas favoráveis ao impeachment da presidente da República deveriam sustentar suas opiniões com argumentos equilibrados, serenos e firmes? Então, como você interpretou o surto protagonizado pela musa do golpe, a advogada Janaína Paschoal, durante manifestação no Largo de S. Francisco, em São Paulo?

Nas redes sociais há quem jure que a moça foi abduzida por um espírito maligno enviado de uma esquina da periferia por petistas macumbeiros. Na certa, foi coisa de pomba-gira.

Para finalizar, você ouviu falar dos Panama Papers, que levantam suspeitas de crime financeiro envolvendo milhares de autoridades, empresários, jogadores de futebol, artistas e outras celebridades?

Se você é um midiota em busca da perfeição, vai dizer que o mundo é assim mesmo, mas graças a Santa Izildinha aqui no Brasil não tem nada disso porque o santo guerreiro Sergio Moro vai botar todos os corruptos na cadeia. O problema é que os documentos vazados da empresa Mossack Fonseca atiram uma chuva de dados que nunca serão digeridos pela mídia.

Então, o que vazar dessa fonte de informações será tratado com o mesmo critério que define tudo que você lê e ouve por aí: o casuísmo do velho Ulysses. Agora, se você ouvir falar de movimentações financeiras em direção ao paraíso fiscal de Liechtenstein no período imediatamente posterior ao fim das investigações do caso Banestado, a coisa pode ficar interessante.

Sabe aquele outro escândalo, o das contas no HSBC na Suíça? Então: é por aí, é por aí.

Para ler: The Panama Papers – em inglês, como funciona o submundo das finanças. Leitura para uma semana.

*Jornalista, mestre em Comunicação, com formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em sustentabilidade. Autor dos livros “O Mal-Estar na Globalização”,”Satie”, “As Razões do Lobo”, “Escrever com Criatividade”, “O Diabo na Mídia” e “Histórias sem Salvaguardas”.


Comentários

2 respostas para “Manual do perfeito midiota – 18”

  1. Avatar de Sergio da Motta e Albuquerque
    Sergio da Motta e Albuquerque

    Sergio da Motta e Albuquerque • um minuto atrás

    Luciano, duvidar cansa. Daí a midiotice. Eu vi alguns dias atrás, a troco de entretenimento, um jornalista de ciências americano explicar o porquê da aceitação passiva ao agendamento (não há outra categoria) imposto pela imprensa quando o povo tem preguiça de pensar. É menos penoso aceitar tudo.

  2. Avatar de Sergio da Motta e Albuquerque
    Sergio da Motta e Albuquerque

    Luciano, duvidar cansa. Daí a midiotice. Eu vi semana alguns dias atrás, a troco de entretenimento, um jornalista de ciências americano explicar o porquê da aceitação passiva ao agendamento (não há outra categoria) imposto pela imprensa quando o povo tem preguiça de pensar. É menos penoso aceitar tudo.

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