Manual do perfeito midiota – 31: A concentração da mídia afeta negativamente a democracia

O cronograma do desligamento do sinal analógico nas principais regiões do país tinha sido divulgada no início do ano. Foto: Ingimage
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A quinta-feira (7/7) trouxe a notícia de que finalmente o deputado Eduardo Cunha renunciou à presidência da Câmara, da qual estava afastado por conta das denúncias de corrupção, e espera com isso eliminar o risco de ter seu mandato cassado e perder os direitos políticos por oito anos.

Ele sabe que pode dar certo: funcionou para seu parceiro Renan Calheiros, que em 2007 deixou a presidência do Senado para escapar da cassação.

Faça um rápido retrospecto e observe como as coisas estão funcionando: a banda dos golpistas se articulou para suspender o mandato da presidente democraticamente eleita em 2014 e em seguida vem sendo desmontada pela sequência de revelações vazadas de investigações sobre corrupção.

Curiosamente, a eficácia da Justiça no caso de Eduardo Cunha vai depender de uma aliança entre grupos ideologicamente incompatíveis: o PCdoB procurou o Partido Democratas, o PPS, o PSDB e outras agremiações que faziam oposição a Dilma Rousseff para garantir o número de votos necessários para cassar o ex-presidente da Câmara.

A mídia tradicional evita se aprofundar nessa questão, porque uma análise mais acurada desse episódio deixaria muito claro, até mesmo para os midiotas, que o afastamento da presidente foi uma manobra conduzida pela oposição que perdeu nas urnas, sob a batuta das grandes empresas de comunicação.

Agora, é preciso conduzir o processo com cautela e tentar conter a enxurrada de acusações que Eduardo Cunha ameaça espalhar caso se sinta ameaçado.

Nem mesmo o presidente enterino, Michel Temer, que pressionou Cunha a renunciar, estaria seguro.

Então, fique atento aos próximos dias.

Mas não se limite a ler os chamados diários de circulação nacional ou a assistir ao Jornal Nacional, da Globo.

Dê uma olhada na mídia alternativa, que inclui revistas, blogs, artigos soltos, vídeos de grupos independentes.

Você vai ficar sabendo, por exemplo, que o vice-presidente no exercício ilegítimo do poder cortou a ajuda a essa mídia não alinhada às grandes empresas de comunicação.

Houve até casos de descumprimento de contratos em vigor.

É tema de muita controvérsia essa questão da publicidade oficial, mas ninguém ignora que a concentração da mídia afeta negativamente a democracia – e cabe ao governo atuar para garantir a diversidade de fontes de informação disponíveis para o público.

Aliás, a prolífica produção de midiotas e a consequente redução do número de cidadãos dotados de senso crítico são alguns dos resultados desse processo, no qual o principal grupo multimídia recebe a maior fatia do bolo publicitário privado e oficial, enquanto os meios alternativos vivem à míngua.

As métricas de contagem da audiência não são confiáveis, e ninguém divulga, por exemplo, fenômenos como o dos produtores de vídeos gratuitos, que formam grandes legiões de seguidores na Internet.

Um deles, Paulo Cézar Goulart Siqueira, provocou uma fila de centenas de pessoas numa livraria da Avenida Paulista, em São Paulo, na quinta (7/7), para o lançamento de seu livro. O número de inscritos em sua conta no Youtube é superior ao da soma dos assinantes da Folha de S. Paulo, o Globo e O Estado de S. Paulo.

Há muito mais fontes para você calibrar sua opinião do que aquele programa supostamente jornalístico que passa entre as novelas da TV.

Para ver: PC Siqueira está morto, só que não.


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