Ainda falta um mês para o começo da primavera, mas alguns passarinhos já buscam parcerias. Alguns deles cantam bem alto, outros conspiram na sombra das ramagens, e todos disputam o espólio do governo enterino.
Mal completou um trimestre no Planalto, e o sorumbático sr. Temer demonstra que não tem qualificações para conduzir um acordo capaz de superar a crise institucional criada com o processo de impeachment da presidente eleita em 2014.
Rompeu-se a ordem, os apetites se assanham e o saque ao Tesouro segue acelerado, sob as vistas grossas da imprensa.
Sobre a cruzada da moralidade, apenas informações esparsas, aqui e ali, a comprovar que tudo não passou de um arranjo entre ativistas políticos instalados no sistema da Justiça e as agremiações partidárias derrotadas no jogo democrático, sob o comando da mídia tradicional.
Um dos efeitos mais visíveis dessa sequência de acontecimentos é o desânimo das milícias que se apropriaram das cores da bandeira nacional para encenar o teatro do combate à corrupção.
Entre aqueles que lideraram o movimento, alguns, talvez os mais conscientes, se recolhem a posições discretas e evitam entrar em polêmica.
No vácuo de lideranças que se formou, movem-se em Brasília os protagonistas de sempre que, batidos nas urnas, buscam o poder pela via indireta.
A imprensa hegemônica parece dividida em dois blocos: um deles, formado pelo baixo clero do Congresso, sonha com a permanência do vice-presidente em exercício do poder; o outro aposta numa chapa formada pela dupla de ministros José Serra e Henrique Meirelles.
Embora os tucanos, oficialmente, mantenham a boa relação com o atual ocupante do Executivo, ninguém acredita que Serra irá desistir de conquistar o cargo máximo da República, principalmente se não for preciso se submeter ao arbítrio do eleitorado.
Essa perspectiva de um golpe completado pela eleição indireta é que enche de vergonha alguns dos antigos líderes do movimento pró-impeachment.
Um deles, jurista renomado que decidiu embaçar a própria biografia no ocaso da vida, anda recolhido a um compungido silêncio e tenta costurar as fissuras que sua escolha provocou na própria família.
E o cidadão comum, aquele que sentiu a excitação cívica a lhe agitar a entranhas durante as manifestações de rua?
Esse está dando graças aos céus porque a Olimpíada lhe ofereceu a justificativa para vestir verde e amarelo outra vez.
Mas essa festa também acaba.
Depois, o midiota volta à triste realidade: aquilo que imaginava ser uma espécie de Operação Mãos Limpas se revela um reles projeto de poder e a mídia tradicional não dá mais conta de tapar o sol com a peneira.
Para os que perceberam o jogo em curso, trata-se de retomar a luta, como sempre foi, e tentar juntar os cacos da nossa jovem democracia.
Mas isso só será possível com o respeito ao justo processo eleitoral.
Enquanto isso, no triângulo Brasilia-Rio-São Paulo, há quem sonhe com uma chapa que junte ao ministro das Relações Exteriores um legítimo representante daquela massa de parlamentares de pouca expressão que foi arregimentada pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Talvez um integrante da chamada bancada evangélica.
O problema é que os humoristas poderiam apelidar essa chapa de, quem sabe, “Pink e o Cérebro”, como naquele desenho animado que fez grande sucesso nos anos 1990.
Então, o Brasil teria descambado definitivamente para o pantanoso terreno da galhofa.
Para ver: Pink e o Cérebro: quem é o mais inteligente?
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