Chega a ser constrangedora a circunstância em que se colocam certos próceres da República, ao defender a limitação do alcance da chamada “Operação Lava Jato”.
Qual é o temor que assombra suas excelências?
Por que a delação premiada dos executivos de uma empresa supostamente envolvida em suborno motiva ações espetaculosas dos agentes da Justiça, e outras acusações ainda mais graves e diretas fazem tremer os paladinos da moralidade pública e ficam esquecidas?
Mais interessante ainda é o rebolado dos principais meios de comunicação, aqueles que dominam a agenda pública, tentando conservar o pouco que resta de dignidade depois de tantos anos de manipulações e meias-verdades.
Você, caro midiota, tem pensado nisso?
Não acha estranho que certos fatos se desvaneçam no ar, como fumaça?
Ou seria mais apropriado dizer que se desvanecem como aqueles 450 quilos de cocaína apreendidos no helicóptero do senador?
Depois da sucessão de vexames em que se meteram os líderes do movimento que leva a julgamento a presidente eleita em 2014, quem ainda justifica o processo de impeachment, se boa parte desse golpe foi construída em cima do discurso do combate à corrupção?
Por mais contaminada que sua mente esteja pela narrativa tendenciosa da mídia tradicional, é preciso ser mais do que midiota para seguir acreditando que esteve ou está em curso um processo judicial.
Embora o presidente da corte patética que se instalou no Senado Federal, ministro Ricardo Lewandovski, insista em que os parlamentares foram arregimentados para agir como magistrados, como esperar alguma lisura, algum desprendimento, do baixo clero do Congresso que reza pelo credo do “é dando que se recebe”?
A lista de questões a serem esclarecidas pelos protagonistas dessa página vergonhosa da nossa História não tem fim e destacados historiadores e cientistas políticos de importantes universidades estão coletando cada gesto, cada declaração, para compor a crônica desses fatos.
Não é a imprensa atrelada aos interesses das grandes corporações de mídia que irá registrar esse episódio e fazer a análise do comportamento de suas excelências. Aliás, há vinte anos vem se desmanchando a credibilidade da imprensa brasileira entre os pesquisadores acadêmicos: ninguém que pretenda ser levado a sério estuda os fatos políticos e econômicos com base em notícia de jornal, a não ser que esteja analisando o próprio jornal.
Não serão, portanto, filósofos metidos a comediantes ou sociólogos contaminados pela hidrofobia política que haverão de escrever a História.
Resta saber quantos, entre os políticos que alcançaram o topo da carreira parlamentar, têm consciência do que irão inscrever em suas biografias.
Quanto ao cidadão comum, aquele que se excitou tanto com a fantasia do combate à corrupção, resta voltar àquela vidinha de telespectador: talvez ali, na imaginação dos roteiristas de novela, ainda existam heróis e heroínas perfeitos, pelos quais vale a pena rir ou chorar.
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