Esta série de reflexões tem o propósito de tornar mais confortável a escolha que você, seguidor fiel e crente da mídia tradicional, fez durante o ano de 2015.
Como se sabe, a condição de midiota assegura um “estar no mundo” menos sujeito a angústias, porque permite direcionar todas as culpas para o outro, mesmo que identificado como uma entidade subjetiva, um partido ou a designação genérica de “os políticos”.
Portanto, é essencial que você conheça os riscos de deixar brotar sua consciência social, aquela que nasce da percepção da alteridade – “natureza ou condição do que é outro, distinto”.
Não vamos complicar as coisas lembrando o que disse Michel Foucault sobre esse “processo de subjetivação”, bem lembrado por Giorgio Agamben na sua conhecida obra Homo Sacer. Se você quiser arriscar uma olhadinha por trás dessa cortina, coloco um link no pé do texto e você vai direto à página 69.
Para resumir, o que se observa é que as classes médias urbanas, expostas à complexidade da vida contemporânea e pressionadas pela ideologia do consumo e do sucesso pessoal, tendem a emular os muito ricos, ou seja, a querer ser – por imitação – parte daqueles que compõem a elite.
A imprensa usa esse sentimento como plataforma para vender a ideia de que, para estar no topo da sociedade, você precisa se descolar dos outros, os “diferenciados” que ficam ao seu lado ou abaixo da sua faixa de renda.
É assim que a imprensa coopta os midiotas.
Para isso, trata de esconder alguns fatos.
Por exemplo, você viu na mídia hegemônica do Brasil, no Jornal Nacional, ou ouviu nos comentários do rádio, como os americanos muito ricos criaram um sistema para escapar do fisco e resguardar suas fortunas contra a crise que eles mesmos provocaram? Deixo também os links para duas reportagens especiais do New York Times sobre esse assunto.
Você também pode procurar os trabalhos da brasileira Grazielle David, especialista em orçamento público, que demonstra com números como os cidadãos mais ricos do Brasil sonegam anualmente mais de R$ 500 bilhões.
Você aderiu àquele abaixo-assinado que as mocinhas bonitinhas oferecem na frente da Fiesp, perto daquele pato inflado, contra a recriação da CPMF? Nunca se perguntou por que as entidades da indústria e do comércio, com ampla repercussão da mídia tradicional, vivem denunciando o aumento da carga tarifária e nunca – repito: NUNCA – se preocupam em contabilizar os bilhões sonegados?
Porque contam com a imprensa para convencer você a continuar pagando pelos realmente ricos.
Aí você passa a acreditar que o problema é que o governo gasta demais, principalmente com programas sociais – e vai para as ruas xingar e agredir quem, no fim das contas, defende os seus interesses.
Mas essa é a natureza do midiota: agir contra seus próprios interesses.
Está feliz assim? Então ignore estas provocações e que 2016 continue lhe proporcionando a cândida felicidade dos inocentes.
Para ler: The New York Times – 1 – e The NYTimes-2. Mais: Homo sacer.
Para ver: Evasão fiscal – vídeo.
*Jornalista, mestre em Comunicação, com formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em sustentabilidade. Autor dos livros “O Mal-Estar na Globalização”,”Satie”, “As Razões do Lobo”, “Escrever com Criatividade”, “O Diabo na Mídia” e “Histórias sem Salvaguardas”
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