Esta semana traz um exemplo bastante didático sobre uma questão muito recorrente nas discussões sobre jornalismo: o que é boa notícia e o que é má notícia.
Trata-se do seguinte: na quinta-feira (8/9), o governo do presidente ilegítimo Michel Temer anunciou que pretende alterar a legislação trabalhista, abrindo a possibilidade de jornadas diárias de até 12 horas.
Evidentemente, algumas horas após o anúncio, feito pelo ministro do Trabalho, o Palácio do Planalto constrangeu o ministro a desdizer o que disse, o que foi cumprido da mesma forma atrapalhada com que têm sido feitos e desfeitos os ensaios de retrocesso desde que a presidente legitimamente eleita pelas urnas, Dilma Rousseff, foi apeada do poder Executivo.
Não vale a pena citar o nome do ministro, porque sabemos que nenhum deles vai ocupar sequer uma linha na história da República – todos certamente destinados a compor um curto verbete sobre a tentativa abjeta de interromper o processo de desenvolvimento social do País.
Mas deve-se aproveitar a oportunidade para tratar com você, midiota, dessa questão crucial no aprendizado de como ler a imprensa.
Vejamos: se você é um empresário dedicado a um ramo de negócio com intenso uso de mão de obra, podemos dizer que a proposta de estender a jornada diária de seus empregados pode parecer boa notícia.
Pode parecer, porque atrás dessa sandice certamente você não estaria vendo o enorme potencial de conflitos trabalhistas, de revoltas e até mesmo de agravamento da crise econômica.
Se você, midiota, não é um empresário com um monte de funcionários, pode ser levado a acreditar, pelos editoriais e pelos comentários daqueles ex-jornalistas que agora se dedicam à propaganda política, que essa seria mesmo uma maneira de dar mais “segurança jurídica” às empresas. Pode, portanto, achar que o aumento da jornada é uma boa proposta.
Mas se você é uma pessoa que vive do salário, precisa ser extremamente, radicalmente, absolutamente midiota para aplaudir tal projeto, porque tudo indica que a primeira ruptura no conjunto de direitos trabalhistas seria o início de um retrocesso em todo o conjunto do sistema de proteção da parte mais frágil nesse eterno conflito entre o capital e a mão de obra.
Pelo contrário: como sabemos, a aliança conservadora que se apossou do poder central vem recebendo, segundo a imprensa, o maior volume de doações nas eleições municipais, o que quer dizer que o grande capital está apostando firme na manutenção do grupo golpista.
Portanto, está se consolidando o propósito de frear todas as conquistas sociais penosamente alcançadas nos anos recentes.
Agora, pense em outro aspecto dessa proposta indecente: pense no potencial de aumento do desemprego com a possibilidade de turnos de doze horas. Pode-se afirmar, num cálculo raso, que, em alguns setores, um terço dos assalariados estaria com o emprego sob risco.
Entendeu para que foi articulado o golpe?
Ainda acha que é boa notícia?
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