O governo estabelecido em Brasília após o golpe parlamentar-midiático busca apoio, com um jantar para 400 deputados e senadores, para a agenda do retrocesso.
No cardápio, o desmanche da Petrobras, a redução de direitos trabalhistas, o corte de despesas públicas sem mexer na elite do serviço público (veja-se a recente proposta de um subteto para os vencimentos dos marajás).
Segundo especialistas que começam a se manifestar, meio ocultos pela mídia, o afastamento da Petrobras dos campos do pré-sal acarretaria perdas de cerca de R$ 100 bilhões no Fundo Social criado para aplicação da receita do óleo em saúde e educação, colocaria sobre a empresa um risco imediato de prejuízo superior a R$ 400 bilhões, sem contar a depreciação de todo seu patrimônio tecnológico aportado nos campos de grande profundidade.
Evidentemente, vão se salvar as empresas terceirizadas, muitas das quais têm aprendido a explorar esses campos e seriam realocadas para servir às multinacionais que herdarão essas jazidas.
No negócio do petróleo, cerca de 70% do risco de investimento se concentra na fase de prospecção. Essa circunstância foi fundamental para a decisão do governo petista de mudar o sistema de exploração: a Petrobras ficou com o gestão das reservas porque havia corrido e superado esse risco inicial.
Agora se pretende entregar esse patrimônio a empresas estrangeiras.
Essa escandalosa decisão explica definitivamente o processo chamado Lava-Jato. Mas não haverá barulho de panelas nem multidões nas ruas vestindo a camiseta da CBF, embora muitos midiotas estejam dizendo: claro, a corrupção quebrou a Petrobras.
Uma vez cumprido seu papel, a minoria silenciosa volta ao anonimato e à sua natural insignificância. É massa de manobra. Jogo jogado, vão pro chuveiro, como diria o jornalista Juca Kfouri.
O que se pode ainda discutir é: quanto tempo vai demorar para que o projeto fascista em andamento comece a dar sinais de entropia.
Sabe-se que o sistema financeiro internacional se vale de processos como esse quando precisa assaltar o campo do trabalho, durante as crises cíclicas do capitalismo: o fascismo é sempre um recurso para manietar, anestesiar ou distrair a sociedade.
Embora o conceito das crises cíclicas seja inspirado em Marx, muitos analistas comprometidos com o viés neoliberal da economia admitem sem reservas sua ocorrência, como uma possibilidade real.
A versão do economista Joseph Schumpeter, que se refere aos ciclos econômicos, é mais apropriada pelos neoliberais, porque permite explicar as crises usando elementos circunstanciais, não estruturais do capitalismo, como as fases de avanço na inovação tecnológica.
O que os analistas adotados pela mídia tradicional evitam como o sacristão ao diabo é a tese de que o capitalismo carrega em sua própria estrutura o germe da crise.
Não é difícil imaginar que um sistema baseado na acumulação sem limites por parte dos detentores do capital tende inevitavelmente a provocar problemas cíclicos de distribuição da riqueza.
Nesse caso, governos com tendência a aplicar preocupações sociais na gestão da economia são um estorvo.
Esse era o caso do Brasil.
Quase dez anos depois da crise financeira de setembro de 2008, a imprensa segue fugindo da questão central, que é o imenso risco, numa sociedade globalizada, da irrestrita liberdade concedida ao capital financeiro.
O que se vê no Brasil e outros países sob assédio do fascismo é a cobrança dessa conta: os fraudadores do sistema em Nova York foram socorridos pelos cofres públicos nos Estados Unidos, e é preciso retomar os laços coloniais para garantir o pagamento.
Como diz o filósofo Oswaldo Giacoia Jr., “o capital precisa colonizar a humanidade para se impor”.
Um observador da cena pública brasileira diria: “o capital precisa do exército de midiotas dispostos a agir contra eles mesmos”.
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