Você, midiota, devoto dos telejornais e cultuador dos especialistas em tudo, que pontificam onipresentemente em todos os meios hegemônicos da imprensa, certamente está convencido de que as atrocidades cometidas em presídios do norte do País são a prova inconteste de que o Estado faliu.
Da mesma forma, você no fundo concorda com aqueles que repetem todos os dias o refrão da inviabilidade da previdência social. Embora, evidentemente, você repudie a proposta de limitar o direito de aposentadoria a Matusalém.
Saiba que você é um produto acabado do processo de lavagem cerebral que vem sendo impingido pelos principais meios de comunicação às classes médias urbanas.
Quanto mais se fala do abandono em que se encontram os presídios, mais se consolida em sua mente a ideia sub-reptícia que pode ser lida nas entrelinhas do noticiário e do opiniário dominantes: a tese tresloucada segundo a qual só a privatização imediata do sistema penitenciário pode evitar que o caos se espalhe por todos os cárceres do País.
Acredite: há muitos milhões de dólares investidos nesse projeto.
O modelo de prisões privadas vem entrando em decadência nos Estados Unidos e os investidores precisam de novos mercados.
No ano passado, o governo de Barack Obama decidiu desmontar o sistema federal de presídios privados. Desde então, vem sendo reduzido o número de condenados em instância nacional que são enviados para essas instalações. O motivo: o sistema se revelou inadequado aos objetivos da aplicação de Justiça e produziu muitos casos de corrupção, com juízes sendo subornados para emitir sentenças mais longas e mais frequentes, para garantir a “clientela” dessas empresas.
Uma das grandes perversidades constatadas foi o aumento indiscriminado das detentions de menores de dezoito anos: um mês de custódia de um menor pode custar até três vezes o valor gasto no aprisionamento de um adulto pelo mesmo período, conta que é paga pelos cofres públicos.
Até crianças de dez anos de idade pagam pena de prisão de até um mês por brincadeiras infantis como ir ao cinema sem autorização dos pais ou simplesmente faltar às aulas para farrear no shopping center.
Outra curiosidade: em alguns estados americanos onde a criminalidade caiu nos últimos dez anos, aumenta no mesmo período a população carcerária em presídios privados – porque os contratos geralmente incluem a obrigatoriedade de o Estado suprir uma cota mínima de ocupação, para assegurar a lucratividade do negócio.
Com o mercado doméstico ameaçado, o que fazem essas corporações?
Olham para o vizinho do sul, contribuem para colocar no poder em Brasília um grupo de políticos simpáticos à ideia de sucatear o Estado, e esperam o retorno de seu investimento.
Não é de hoje que empresas do setor de segurança privada assediam políticos, juízes, promotores e jornalistas brasileiros em busca de apoio.
Muitas conferências e feiras supostamente destinadas a questões de tecnologia são majoritariamente dominadas por tecnologia e materiais de segurança, boa parte das quais destinadas a controle de multidões e contenção de presídios.
Ou seja: quanto pior a situação social, mais lucro.
Os organizadores desses eventos adoram convidar jornalistas brasileiros, eventualmente com direito a uma passadinha em Las Vegas, por conta da casa.
Mas você, caro midiota, não vai ler nada disso nos principais diários do País nem vai ver os indignados comentaristas da televisão e do rádio alertando para os riscos desse projeto.
Pelo contrário: você vai encontrar reportagens falando de “presídios-modelos” privados, por enquanto chamados de parceria público-privada.
Talvez seja o caso de se perguntar: qual a distância entre privatizar a ponta do sistema da Justiça e privatizar logo todo o sistema judiciário?
Ou será que…?
Para ler:
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