Poxa, vai ser só um show! A fila está no Garcia! Os cambistas estão vendendo meia a 800 reais! Minha tia foi pra fila às quatro e meia da manhã! No shopping Barra está uma zorra da porra! Ela devia ficar uns 3 meses fazendo show aqui na Bahia!
Não se tinha outro assunto em Salvador no final de semana passado. Era sobre o show, como podia se ir (afinal são 3000 lugares para os dois dias), como não se conseguia ir, quem conseguiu e quem não conseguiu. Mas lá estavam os seguidores, os fãs incondicionais, os adeptos desse entidade maior que é Maria Bethânia, ou simplesmente Ela.
O show é um ritual que começa com o pó-de-pemba espalhado pelo teatro para abrir os caminhos e que nenhuma pessoa da limpeza ousa tirar; a entourage toda vestida de branco; o azul marinho do tapete por onde Ela pisa (Bethânia não pisa em preto); tudo milimetricamente orquestrado e arrumado para que Ela brilhe.
Ela entra de dourado e a plateia dá a maior saudação que se pode imaginar. Ela , daquele jeito formal, agradece aos “senhores”pela presença. Os gritos mais fanáticos são cortados por um”os senhores me permitem continuar”. E aí vem o silencio de se ouvir as respirações.
A experiência é única. Dona Maria da Guia colocou roupa nova, toda de preto e prateado e diz : Meu marido adora Ela. E esse anos, estamos ricos ( pelo menos uma pessoa nesse país acha isso), pois teremos ainda Gal, Caetano e Gil.
Ao lado, sentado na plateia Adelmo Maurício não larga o celular contando para os grupos o que vê, fotografa e manda. E, de quando em quando , levanta os braços como os corredores quando chegam a final da corrida.
O seu cantar é diferente: é doce, é suave, quase como a mãe ninando as crianças. O gestual é delicado. Ah! a dança! A dança tem o gingado de recatadas baianas, mas o corpo se mexe como uma menina de 16 anos. Ela na Bahia volta a ser a caçula. E seus irmãos mais velhos Rodrigo e Mabel estão lá para apoiar e mimar sua menina.
Existe uma tradição no teatro Castro Alves: ao final do show, as pessoas correm para frente do palco. Dessa vez, a plateia se esvazia. Todos se aglomeram para fotografar, gravar, ver de perto. E Ela, que não fala, que não pega, acaba por estender as mãos e dar aquele tapinha característico.
É difícil definir o que acontece em um show d’Ela no seu templo maior: o Teatro Castro Alves. Todos lhe prestam homenagem. Até Mãe Carmen, a neta sucessora de Mãe Menininha, entra na fila do beija-mão literalmente. Ela cansada, sentada na cadeira-trono, tem paciência de receber, fotografar. Até que avisa: Não posso mais. Os seguidores ficam tristes, mas jamais decepcionadas.
E Ela anuncia: agora vou ficar 15 dias em Santo Amaro. Definitivamente em seu aconchego.
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