Momento um: em viagem a Barbados, há mais de 20 anos, peguei um avião que tinha como destino final Cuba. Sentei-me ao lado de uma jovem, que viria ao Brasil estudar. Pai cubano, mãe brasileira. Ela me disse que o que mais a incomodava no embargo dos Estados Unidos era a falta de tinta para pintar as casas.
Momento dois: fui a Cuba há uns 15 anos. Impressão de turista: povo alegre, festeiro e musical. Rapidamente, entendi como as pessoas que trabalhavam com turismo se viravam: propinita. No hotel, se eu não assinasse as comandas e pagasse direto aos funcionários, o preço caía à metade. Com os táxis, a mesma coisa acontecia. Fui cooptada. Quem era eu para decidir sobre a vida daquelas pessoas?
Os funcionários públicos tinham um apreço desmedido sobre suas horas de trabalho. Estávamos em um museu e meia hora antes do fechamento, os funcionários gritavam: se cerrará! Se cerrará!
Difícil demais, então, conversar livremente sobre os temas incômodos aos cubanos. Fui à universidade e poucos alunos se dispuseram a conversar conosco sobre liberdade de expressão.
Havia algumas poucas lojas de luxo, com bebidas e comidas finas, além de eletrodomésticos de ponta. Os privilegiados que lá podiam comprar: atletas e gente do governo.
Momento três: há dois anos, a blogueira cubana Yoani Sánchez veio a São Paulo. A convite da Livraria Cultura, fui uma das blogueiras a (tentar) conversar com ela. Impossível. Uma trupe de “esquerdistas” invadiu o auditório e não deixou a moça falar. Liberdade de expressão, desde que se concorde com o interlocutor, concluí.
Os tempos mudaram, Cuba mudou, abrindo-se paulatinamente à economia de mercado. Só assim foi possível o restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos. Torçamos para que os republicanos não sabotem o desejo da ilha de se ver reintegrada à economia mundial.
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