A eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara coloca na linha sucessória do regime golpista a joia da coroa da política mais retrógrada que o período pós-ditadura foi capaz de construir.
Em termos objetivos – se é que se pode encontrar alguma objetividade no campo pantanoso dessa politicagem – fechou-se o círculo que tem no comando do Executivo a figura esquivosa do enterino Michel Temer, que alimenta delírios de permanência, mais o notório presidente do Senado, Renan Calheiros.
Dizia o Barão de Itararé: “de onde menos se espera é que não sai nada mesmo” – e é aqui que nos conduz a crônica desses fatos lamentáveis.
Rodrigo Maia no comando da Câmara é a cereja no topo do bolo indigesto que se quer oferecer aos brasileiros. A massa, já sabemos, é composta de todas aquelas iniciativas que foram contidas pelos governos que se sucederam nos últimos treze anos.
Diga-se, de passagem, que essa agenda foi derrotada na eleição de 2014, o que configura muito claramente a tese de que a democracia brasileira foi vitimada por um golpe.
Pode-se contar com o grande empenho do Congresso na redução de direitos trabalhistas – exceto, é claro, para a nata do serviço público, aqueles que estão bem representados na corte transitória – o que inclui, bem no alto, o sistema judiciário.
Também se pode – oh, ironia infeliz! – apostar na liberação da jogatina, em medidas restritivas da ação de movimentos sociais, na flexibilização do porte de armas de fogo, na reversão de políticas sociais que nos últimos anos deram algum alívio a mulheres, homossexuais, lavradores sem terra e famílias urbanas sem teto, contingentes historicamente deixados à margem da modernidade nesta terra de oportunidades desiguais.
Até mesmo avanços em setores consolidados, como as normas ambientais, a regulamentação dos padrões de governança das empresas e os paradigmas da sustentabilidade correm risco com essa nova configuração do poder federal.
Mas a mídia tradicional afirma que a eleição de Rodrigo Maia representa uma derrota para o chamado “centrão” – aquela parcela do Congresso que se celebrizou numa frase do falecido deputado Roberto Cardoso Alves: “É dando que se recebe”.
Nada mais falso.
A eleição de Rodrigo Maia representa um desafogo para o presidente enterino, este sim, historicamente comprometido com o “baixo clero” do Congresso que sempre travou as tentativas de fazer avançar uma agenda progressista.
Se algum avanço houve, mesmo com as concessões feitas a essa chaga do Parlamento nos dois governos de Lula da Silva e no primeiro mandato de Dilma Rousseff, foi apenas porque Lula tinha o carisma e o jogo de cintura adequados para manter os apetites sob controle.
Saiu Lula, os apetites se descontrolaram e Dilma foi devorada.
E esse foi provavelmente o grande erro de Lula: cercou-se da aparelhagem partidária e trocou a militância das ruas pelo apoio interesseiro daqueles que ele mesmo um dia havia chamado de “os trezentos picaretas”.
O quadro que temos aponta para um enorme retrocesso em praticamente todos os campos que o poder público pode alcançar.
Temer se considera, com a eleição de Rodrigo Maia, livre do fantasma de Eduardo Cunha.
O midiota lê os editoriais e acha que está tudo bem, que Temer, afinal, é um poeta, e que a corrupção foi derrotada.
Só que não.
Sabe esses filme de zumbis?
Pois é.
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