O publicitário Duda Mendonça procura quem lhe dê ouvidos no sistema de apuração da Operação Lava-Jato: ele tenciona denunciar o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, de se haver beneficiado com doações ilegais em sua campanha para o governo de São Paulo em 2014, pelo PMDB.
Se o prezado midiota ainda tinha dúvidas sobre o propósito da ação judicial, basta contar os dias para que o poderoso líder da indústria paulista seja exibido no Jornal Nacional com os punhos algemados e ladeado por aquelas conhecidas figuras da Polícia Federal.
Mas as chances de isso vir a acontecer são menores do que zero, embora por muito menos outros acusados tenham tido suas vidas destruídas pela execração pública sem que houvesse contra eles mais do que “convicções”.
É bem possível que Skaf tenha sido colocado na linha de tiro porque ameaçou pessoalmente o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de instalar aquele pato amarelo na frente do Banco Central, em Brasília.
Lembra da animação com que você saiu por aí de verde e amarelo, de como posou para selfies diante do pato inflado na Avenida Paulista?
Pois é. Ninguém haverá de criticar seu ardor patriótico e moralista.
Afinal, sabemos todos que esses são os sentimentos básicos da consciência política.
Muito básicos.
Pode-se, no entanto, evoluir com a percepção de como o cidadão e a cidadã correm o risco de ser manipulados quando a mídia extrapola de suas funções tradicionais e passa a agir como partido político.
A diferença entre um midiota e um leitor crítico é que o primeiro leva a informação e a opinião predominantes na mídia pelo valor oferecido, enquanto o segundo procura sempre ler nas entrelinhas os elementos usados para convencê-lo.
Não é correto dizer que um leitor “de esquerda” seja sempre mais consciente do que o leitor “de direita”, porque todos sentimos grande satisfação quando somos expostos a narrativas que confirmam nossas crenças.
A diferença entre um midiota “progressista” e um midiota conservador é que o primeiro, quando se ilude, o faz buscando os meios de uma ruptura com o status quo, enquanto o conservador vai se empenhando em consolidar o que é, como é, até se tornar um reacionário ativo, ou seja, alguém que age contra a modernidade.
O reacionário quer deslocar a contemporaneidade para o passado.
O progressista, sem aspas, vislumbra o progresso social como essência do processo civilizatório.
Basicamente, o que distingue um do outro é a aprendizagem da alteridade, fundamento das relações sociais e característica central da condição humana.
Também se pode fazer uma distinção clara entre o midiota de qualquer campo ideológico e o livre-pensador: resumidamente, pode-se dizer que o midiota precisa buscar fora de si, no campo da opinião pública, os fundamentos de sua ideia de moral, enquanto o indivíduo que pensa livremente e não teme questionamentos (ao contrário, os aprecia como fator de crescimento) desenvolve sua própria percepção da moral, sem depender das opiniões gerais: ninguém, muito menos a mídia – precisa lhe dizer o que é certo ou errado.
Outro aspecto interessante se refere ao sentimento de superioridade moral: o midiota tem um enorme prazer em declarar-se moralmente superior, e se sente extremamente recompensado quando vê sua noção particular de moral referendada pelos meios de comunicação; o indivíduo que enxerga o mundo de maneira crítica, arriscando-se ao livre pensamento, se incomoda com a sensação da superioridade moral, porque esse é um fator de desigualdade.
Finalmente, há que se considerar a observação de Karl Gustav Jung, quando diz que o bem sem caráter ético é um aspecto da legislação do mal. O midiota se justifica com a crença de que está do lado do bem, mas quando essa percepção se associa com a ideia de que devem ser eliminados aqueles que não compartilham sua noção de moral, esse suposto bem perde toda característica ética.
É por isso que o midiota fica atônito ao ver, um a um, os paladinos da moralidade pública caindo de seus pedestais.
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