O ocupante do Palácio do Planalto oferece, como presente de Natal, o maior retrocesso em termos de direitos trabalhistas que algum governo ousou promover.
Nos canais dominantes da mídia, analistas de política, economia e assuntos gerais abusam do “veja bem…” para justificar o assalto.
Numa das emissoras de rádio do maior grupo de comunicação da América Latina, o especialista em generalidades tenta demonstrar como o sacrifício da maioria acabará por estimular a retomada da atividade econômica e a criação de empregos – “no longo prazo”.
Seu profeta é o economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946), mas ele omite a frase famosa de seu ídolo: “A longo prazo, estaremos todos mortos”.
O presidente interino também aceitou a renegociação das dívidas dos Estados sem a exigência de contrapartidas, conforme aprovada pela Câmara dos Deputados – a presidente Dilma Rousseff se recusou a discutir essa proposta indecorosa.
Os jornais chamados de circulação nacional dissimulam, mas a operação de crédito suplementar no valor de R$ 3,4 bilhões, aprovada por ele, equivale ao delito de que foi acusada a presidente destituída.
A medida foi possível porque, em setembro, dois dias após oimpeachment, a Câmara dos Deputados tornou legais tais manobras.
O decoro foi excluído das tratativas políticas e os operadores do projeto de usurpação tratam de arrancar o máximo do preposto que assina os papéis, porque sabem que não há como evitar que ele também seja levado pela enxurrada de delações.
Por enquanto, a mídia hegemônica ainda consegue selecionar este ou aquele pacote de denúncias, poupando o quanto possível os corruptos ainda úteis.
Neste momento, a opção mais viável para o fim da crise é o caos, porque no campo da política não há protagonistas com estofo moral suficiente para assumir o papel do mediador.
Até o sempre disponível ex-tudo Nélson Jobim deu um jeito de colocar seu nome entre as especulações de colunistas de jornais, como alternativa para um mandato-tampão.
No terreno do caos, a polícia paulista pede licença para agir “com rigor”, na expectativa de uma onda de protestos após a inauguração do ano novo.
Oficiais espalham, aqui e ali, que manifestantes têm usado “coquetéis molotov” com ácido sulfúrico, e exigem a aquisição de uniformes especiais para suas tropas de controle social.
O ocupante do Planalto não governa. Foi tomada pela febre de Macbeth, sua cabeça ferve porque acreditou nas três bruxas da mídia e achou que o destino lhe reservava o papel de estadista, de salvador da pátria.
Não tem porte para tanto.
Por ambição perdeu-se Macbeth.
Deixe um comentário