Manual do perfeito midiota – 61

hospital sírio libanês

A midiotice é uma condição complexa. Alguns estudiosos a consideram uma síndrome, ou seja, um conjunto de características patológicas.

Outros acham que se trata de uma derivação natural da sociedade de massa, fruto do poder do sistema de mídia dedicado à espetacularização da vida comum: para que a cultura de massa prevaleça, é preciso que o número de midiotas seja muito grande, maior ou eventualmente mais ativo do que o número de cidadãos conscientes.

Nesta semana que se encerra, tivemos a demonstração de que a midiotice alcançou um nível assombroso no Brasil.

Depois da sequência de imbecilidades verbalizadas por comentaristas da mídia sobre a morte do ministro Teori Zavascki em um acidente banal de aviação, a doença e morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva vem coroar este que tem sido um dos períodos mais obscuros da história moderna do Brasil.

Para ingressar nesse terreno pantanoso, é preciso, infelizmente, enfiar as botas nos casos graves da patologia midiota, como o dos médicos que celebraram sua internação e torceram para que ela não sobrevivesse.

O midiota ainda pode ser considerado membro da sociedade humana, mas esses indivíduos, credenciados pelo juramento de Hipócrates, que demonstram pendores para a perversão, trazem características de psicopatas antissociais.

A começar da reumatologista Gabriela Munhoz, que divulgou imagens de tomografia da paciente, informação que ela deveria proteger, submetendo uma mulher indefesa, em estado de coma, à sanha de indivíduos desqualificados, revelou-se nas redes sociais uma caterva de insanos que usam o avental branco.

O ícone dessa barbárie, na preocupante lista de médicos sem ética que se manifestaram sobre o cadáver da ex-primeira-dama é sem dúvida o jovem neurocirurgião Richam Faissal El Hossain Ellakkis, que logo após a internação da paciente sugeriu que ela fosse assassinada “por acidente” na mesa de cirurgia.

O Hospital Sírio-Libanês demitiu a médica que deu início à corrente de obscenidades, mas seria muita candura esperar uma atitude dos conselhos de medicina, que já deram um péssimo exemplo do pior corporativismo durante o período de implantação do programa Mais Médicos.

O dr. Ellakkis provavelmente seguirá exercendo seu mister, depois de um período conveniente de férias, e aplicando em seus infelizes pacientes o critério de maior ou menor valor da vida humana que demonstrou nesse episódio grotesco.

Por exemplo, ele capricharia numa cirurgia de alto risco num paciente negro, ou em outro que seja torcedor do time adversário? Operaria com o melhor critério um paciente judeu?

A obrigação de tecer comentários sobre o ambiente hipermediado, que repercute a agenda proposta pela mídia hegemônica, tem desses inconvenientes. Neste período em que os midiotas são, como se diz nas piores escolas, “empoderados”, trata-se de atividade altamente insalubre.

Alguém há de dizer que midiotas sempre houve.

Mas é preciso lembrar que o nível de agressividade demonstrado por essa rede de médicos e outros ativistas das redes sociais, inclusive advogados e jornalistas, vem sendo estimulado por uma imprensa irresponsável e  manipuladora, que nos últimos anos elevou à condição de oráculos alguns indivíduos que só não relincham de pura modéstia.


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