Há evidente fadiga geral com relação às eleições presidenciais americanas. Porém, passado o feriado do Labor Day (Dia do Trabalho nos EUA em 5 de setembro), a corrida à Casa Branca realmente ganha contornos definitivos. A partir de agora as pesquisas vão revelar com mais clareza os humores do eleitorado. Para os fanáticos por estatísticas recomenda-se olhar não apenas os dados de um único instituto de pesquisas, mas fazer uma média de todos resultados. Não se deve notar apenas os números nacionais, mas agregar também o que estão dizendo os Estados. Cada um deles pode dar melhores perspectivas- e geralmente acertam mais- do que o cômpito geral.
Também estão concentrados em setembro e outubro os quatro debates entre candidatos. Reza a lenda que Richard Nixon perdeu a eleição de 1960 por causa de um barbeado mal feito. O republicano tinha aquilo que se chama de “barda das cinco horas”, com pelos aparecendo em meados da tarde e obrigando nova passada da navalha – o que ele negligenciou. Trata-se, na verdade, de história exagerada. É claro que Nixon parecia vilão de gibi com aquela sombra no rosto e pegou muito mal no primeiro debate televisionado da história. Mas quem o derrubou mesmo foram os cento e tanto mil votos a mais para John Kennedy em Illinois. Foram garantidos pelos sindicatos locais ( dizem as más línguas que a máfia colocou mãos à obra nessa empreitada).
Donald Trump não tem barba cerrada: tem bronzeado artificial. Hillary Clinton, acusada pela oposição de toda sorte de vilania, não pode ser repreendida por falta de barbeado. Assim, caberá a cada um dos rivais ganhar o eleitorado no papo.
Donald continua se fazendo de difícil, sem afirmar categoricamente que participará da refrega. Mas todo mundo sabe que ele estará naqueles palcos ao lado da oponente democrata. Precisa disso mais do que ela. Será ali que ele tentará convencer aqueles republicanos que o abandonaram a reverter expectativas e cravar seu voto no Partido Republicano. Vai se esforçar também a ganhar os independentes ainda indecisos entre dois candidatos com os maiores níveis de rejeições na história das pesquisas.
Resta saber que Donald Trump aparecerá frente às câmaras. Será o cuspidor de fogo que na última semana de agosto fez discurso irado sobre imigração? Ou será o conciliador que foi à uma igreja de comunidade negra em Detroit dizendo-se aprendiz dos problemas de afro descendentes? Ou, talvez, seja o malcriado que atuou nos debates das primárias republicanas disparando ofensas a rivais.
Esse aspecto camaleônico do republicano é o grande dilema da equipe de Hillary. Como se preparar para enfrentar alguém tão imprevisível? Gente ligada à campanha democrata diz que Clinton apelará, claro, para seu lado mais forte: o domínio de dados sobre política governamental. Ela, como já se disse aqui, é como aquela primeira aluna da classe que todos conhecemos na escola e que tinha o ponto na ponta da língua. Nessa esfera a candidata é ótima debatedora e ganhou embates contra o excelente Barack Obama nas primárias de 2008. O problema é que seu oponente não sabe nada e sabe que não sabe.
Clinton conta também com a agressividade de Trump, ao ponto de estar preparando algumas tiradas que despertem o monstro. Quando atacada costuma ganhar a compaixão do eleitorado que detesta ver mulher ser maltratada. Mas seria muito esperar ferocidade trumptiana nos quatro encontros.
Essa coluna arrisca o palpite de que se verá “Trump paz e amor” na maior parte do tempo. A gerente de campanha do republicano, Kellyanne Conway, é a grande incentivadora desta faceta nova do candidato. Deu resultado em agosto- antes do discurso xenofóbico no Arizona. Donald subiu nas pesquisas e Hillary desceu (ela está a 4% acima do oponente em nível nacional). Será o lado brando que terá melhor apelo aos eleitores brancos com ensino superior e às mulheres republicanas moderadas que saíram na barca do partido. Claro que haverá pancadaria: o homem não consegue evitar. Mas a frequência das porradas deve ser bem menor do que foram durante as primárias. E ele não precisa mostrar as garras desse modo, basta bater nas teclas dos escândalos dos e-mails de Hillary durante sua passagem pelo Departamento de Estado, e dos negócios da Fundação Clinton onde doadores tiveram acesso, especial ou não, à Secretária.
De todo modo, desde que Muhammad Ali enfrentou George Foreman no Zaire, em 1974, não se vê briga tão boa. Vai bater recordes de audiência e pode dar a Casa Branca ao vencedor.
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