O delírio de Sanders

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Bernie Sanders, o senador pelo Estado de Vermont e candidato a nomeação do partido Democrata às eleições presidenciais, não é o que parece. Timoneiro de novas correntes contrárias às elites políticas americanas, ele capitaneia a nau do “Tea Party de esquerda”. Coloque-se rapidamente que esse enorme grupo se diferencia do “Tea Party de direita”, o original, por sua negação a xenofobia, racismo e belicismo. Só. De resto, na revolta contra as máquinas políticas que dominam o país, o enorme poderio da indústria financeira, os acordos econômicos da globalização, o sistema judiciário, o desequilíbrio na distribuição de rendas e postura da política externa dos Estados Unidos, os correligionários de Donald Trump, à destra, e os “Bernies”, na canhota, são faces da mesma moeda.

Bernie, 74, não será o nomeado do partido pelo qual concorre. Sua rival, Hillary Clinton, praticamente tem seu coroamento definido. Mas a competição continuará teimosamente até junho próximo na convenção democrata na Filadélfia. As justificativas para esse esforço baseiam-se em fantasias. O senador acredita que conseguirá convencer os chamados “super delegados” (democratas que estão livres para votar em quem quiserem) e mudar seus votos. Essa turma amonta 719 pessoas, sendo que Hillary tem 523 a seu lado, e Sanders apenas 39, com o restante 152 não compromissados. São necessários 2383 delegados (super ou não) para a nomeação.

O senador de Vermont aposta que os super delegados de Hillary vão virar casaca. Uma das razões para isso seria a vantagem que Bernie tem nas pesquisas de opinião sobre possíveis candidatos nas eleições de novembro, onde ele mantem entre 13% e 17% de vantagem sobre o republicano Donald Trump. Hillary, por sua vez, tem entre 6% e 13%. A ex-Secretária de Estado tem 54% de rejeição entre os eleitores do país, enquanto Sanders teria apenas 39%. Isso faria com que o partido pensasse melhor sobre suas chances de manter a Casa Branca.

Por enquanto esses são os números. Mas será que aguentariam até novembro? Bernie durante toda a corrida não foi atacado. Hillary não soltou um único anúncio negativo a seu rival na mídia nessas primárias. E ela tem mais de 2.5 milhões de votos diretos a mais do que seu concorrente. Os republicanos também se fecharam em copas. Para eles Sanders seria uma benção como oponente. Imagine-se o que fariam, caso ele fosse mesmo nomeado democrata.

Para começar usariam a auto definição do próprio: “um socialista”, que propõe uma “revolução”. Um homem que foi presidente do Partido dos Trabalhadores Socialistas Trotskistas nos anos 1980. A agremiação propunha acabar com o orçamento militar americano e ainda oferecia solidariedade à revolução no Irã. Existem imagens de Bernie na Nicarágua, em 1985, num comício sandinista cantando: “Aqui, lá, em toda parte/ Yankees vão morrer!”.

Isso bastaria para colocar o candidato em patamares de rejeição, no mínimo, equivalentes aos 70% de Trump. Mas não ficaria nisso. Sanders foi tomado pelo ensejo da pena para externar sua opinião sobre sexo. “A revolução virá quando as meninas deixarem de lado os ensinamentos de suas mães e aceitarem o amor de seus namorados”. Ou seja: o sexo é um dos motores da revolução. Para ele, repressão sexual causa câncer. E mais: propõe que as crianças andem nuas, pois assim podem se familiarizar com o sexo oposto, não apenas visualmente, mas também no tato. E fiel a seus princípios votou no Senado contra a criminalização da pornografia infantil na Internet. Na cartilha republicana vale o escrito e o voto: ambos estariam relacionados.

Independentemente do que se ache sobre liberalização sexual, a maioria do povo americano é contra tamanhas ousadias. Imagine-se os rótulos que os republicanos colariam no candidato: “Um velho comuna pedófilo e tarado”, seria, talvez, o mais brando.

Mas o pecado maior de Sanders não vem das coisas da virilha, mas dali de perto: dos bolsos. Segundo o New York Times, seus planos- ensino universitário gratuito universal, novo plano nacional de saúde pública ampliado grandemente, renegociação ou denúncia dos acordo de comércio exterior, salario mínimo de pelo menos US$ 15, investimentos em indústria e infraestrutura, entre outras propostas- custariam US$ 20 trilhões. Aumentos de impostos- principalmente para aqueles que faturam mais de US$ 200 mil por ano, mas não exclusivo destes- dariam conta dessa fatura. Isso, a despeito do atual presidente Barack Obama estar,  sem sucesso em oito anos de mandato, garfando a carteira dos mais ricos- e somente deles- com aumentos de impostos.

Bernie e seus correligionários parecem ter se esquecido convenientemente que no mundo real existe uma grande tropa de opositores chamados “republicanos”, que até se provar o contrário, têm maioria na Câmara e no Senado. Assim, em novembro, Sanders seria espancado como um vira-lata em porta de padaria.


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