Coluna_Adriana Komives

A Terra parece que saiu de sua órbita

De tanto que a forçamos, perdeu a sua rota

Desgovernados estamos todos

Pedindo para descer do carrossel

Que desvairado gira e rejeita tudo e todos

Com sua força centrípeta

Carregando as facas, gumes, fazendo jorrar sangue

Esperma, leite, carne

Triturando nossos valores

Perdidos em bolsas que já não sabem

Se o vazio é cheio

Se dinheiro, se amores

Se a cheia transborda ou alça

Atentamos aos pudores

Bombas corruptas

Homens-bomba

Lava, jatos, mesadas, mamão

E no aeroporto, dupla explosão

Em busca de sentido, radicalismo

Tentamos entender pelas redes

Mas vai tudo tão rápido que não dá para seguir

O fluxo alterado do rio que não tem mais leito

Peito aberto, voz urrando

Para, para mundo, globo

Escuta, espera, para um pouco

Você e o seu vizinho, o berro

O esporro, o branco, o negro

O refugiado, o mouro

Desmorona o mundo

Falso explícito em que

Todos

o belga, o sírio

Neste mesmo barco em que tudo

E todos somos interligados

Para um pouco

Respira e sente

Eu e você, e o outro

Amigo, antigo

Pede socorro

E eu não morro, escuto

Espero, oro, erro

Sussurro e sopro

Bem baixinho, devagarinho

Peço um pouquinho

De empatia

De compaixão

Pelo sim, pelo não

Foto: Ingimage
Foto: Ingimage

*Adriana Komives, brasileira de origem húngara, 52 anos, 32 em Paris onde estudou cinema e exerce desde então as profissões de montadora e roteirista. Consultora em montagem de documentários nos Ateliers Varan, la Femis, DocNomads, ensina o ofício de montagem no Institut National de l’Audiovisuel e roda o mundo trabalhando em oficinas de realização documentária.


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