A Terra parece que saiu de sua órbita
De tanto que a forçamos, perdeu a sua rota
Desgovernados estamos todos
Pedindo para descer do carrossel
Que desvairado gira e rejeita tudo e todos
Com sua força centrípeta
Carregando as facas, gumes, fazendo jorrar sangue
Esperma, leite, carne
Triturando nossos valores
Perdidos em bolsas que já não sabem
Se o vazio é cheio
Se dinheiro, se amores
Se a cheia transborda ou alça
Atentamos aos pudores
Bombas corruptas
Homens-bomba
Lava, jatos, mesadas, mamão
E no aeroporto, dupla explosão
Em busca de sentido, radicalismo
Tentamos entender pelas redes
Mas vai tudo tão rápido que não dá para seguir
O fluxo alterado do rio que não tem mais leito
Peito aberto, voz urrando
Para, para mundo, globo
Escuta, espera, para um pouco
Você e o seu vizinho, o berro
O esporro, o branco, o negro
O refugiado, o mouro
Desmorona o mundo
Falso explícito em que
Todos
o belga, o sírio
Neste mesmo barco em que tudo
E todos somos interligados
Para um pouco
Respira e sente
Eu e você, e o outro
Amigo, antigo
Pede socorro
E eu não morro, escuto
Espero, oro, erro
Sussurro e sopro
Bem baixinho, devagarinho
Peço um pouquinho
De empatia
De compaixão
Pelo sim, pelo não
*Adriana Komives, brasileira de origem húngara, 52 anos, 32 em Paris onde estudou cinema e exerce desde então as profissões de montadora e roteirista. Consultora em montagem de documentários nos Ateliers Varan, la Femis, DocNomads, ensina o ofício de montagem no Institut National de l’Audiovisuel e roda o mundo trabalhando em oficinas de realização documentária.
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