O governo acordou para um fato: não vai conseguir cumprir a meta de superávit primário deste ano, que é de 2,15% do PIB. Jogou a toalha. Em vez de tentar corrigir os rumos das contas públicas, enviou um projeto de lei em que não se compromete com meta alguma. Erro de enfoque. Por primário, entenda-se o total da arrecadação, menos as despesas, antes do pagamento dos juros – estes remuneram as aplicações financeiras das pessoas que têm fundos DI ou de renda fixa, por exemplo.
A princípio, o governo apresentou pedido de urgência para a votação da matéria. Recuou, por conta de uma rebelião parlamentar. Erro de estratégia.
Está um bate-cabeça no governo. Logo depois de reeleita, a presidenta Dilma Rousseff mudou o discurso e prometeu austeridade fiscal. Na semana retrasada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pregou enfaticamente o corte de gastos. Na semana passada, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, tentou explicar ao Congresso o tamanho da contradição entre os discursos de Dilma e Mantega e o projeto de lei. Não conseguiu. Erro de comunicação.
Na sexta-feira, entrevista do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse à Globonews que, se a lei não for aprovada, o governo cumprirá a meta. “É simples. Suspende as desonerações, corta os investimentos, para as obras e para uma parte da economia. Nós vamos ter mais desemprego e ficará na responsabilidade de quem tiver essa atitude”. Erro de reação. Joga para terceiros o ônus dos erros de condução da política econômica.
Está um jogo infantil: como não fiz gol (o superávit), a bola é minha, levo para casa e ninguém mais joga. Um ruído totalmente desnecessário.
Em tempo: a manifestação convocada pelo MTST não foi exatamente a favor do governo. Foi uma passeata de cobranças. Os simpatizantes do PT querem reformas. É bom o governo deixar a postura autista de lado e prestar atenção nesses sinais.
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