Um dos mais longos conflitos armados do planeta está prestes a acabar. Depois de 52 anos de enfrentamento, mais de 200 mil mortos e desaparecidos e quase sete milhões de deslocados internos, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo Juan Manuel Santos acabam de assinar um cessar-fogo bilateral. Pela negociação histórica, o processo de desarmamento deve durar 180 dias.
O cessar-fogo me fez lembrar uma caça ao tesouro das Farc que causou furor na selva de San Vicente del Caguán, no centro-sul da Colômbia. Era abril de 2003 quando o soldado Wilson Sandoval se desequilibrou e, para não cair, fincou um facão no solo. Ouviu um som estranho, oco. Ao cavar a terra, encontrou uma botija azul repleta de dólares. Encheu a mochila com o maior número possível de cédulas e enterrou de novo a botija.
De volta ao acampamento, o soldado Sandoval revelou seu achado para dois amigos, com os quais fez um pacto de silêncio. Horas depois, um outro soldado perdeu a perna ao pisar em uma mina na mesma região. A explosão foi seguida por uma chuva de dólares picados. Na sequência, boa parte dos soldados da companhia de Sandoval, a Demolidor, estava cavando a terra atrás de botijas com dólares.
O tesouro pertencia à guerrilha. Os soldados estavam acostumados a encontrar esconderijos de armas e de víveres das Farc, mas jamais haviam encontrado dinheiro. Estimulados pelos próprios comandantes, todos os soldados da Companhia Demolidor passaram a cavar atrás de mais botijas azuis. Ocorre que outra companhia, a Abutre, também estava na selva e seus homens desconfiaram da incessante movimentação dos colegas.
Não demorou e soldados da Companhia Abutre encontraram botijas flutuando em um rio. Tinham sido esvaziadas, mas em algumas havia etiquetas bancárias. Pressionados, os homens da Companhia Demolidor concordaram em dividir o butim, que totalizava US$ 46 milhões. A missão original, resgatar americanos sequestrados dias antes pela guerrilha, foi abandonada. Na selva, muitos posaram para fotos com dólares nas mãos.
De volta ao quartel, os 147 homens (15 oficiais) não conseguiram esconder a súbita riqueza. Mais da metade desertou ou pediu baixa. Muitos dos que continuaram no Exército se entregaram aos apelos do consumo. Acabaram com os estoques das lojas da cidade mais próxima do quartel, fecharam bordéis para dar festas e superlotaram até os salões de beleza. Não demorou e estavam todos respondendo processo na Justiça ou foragidos.
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