Afinal, quem é Eliane Elias?

A pianista paulistana Eliana Elias (foto: reprodução / Facebook)
A pianista paulistana Eliane Elias (foto: reprodução / Facebook)

Radicada nos Estados Unidos há 35 anos, a pianista, cantora e compositora paulistana Eliane Elias construiu sólida carreira internacional, a despeito de praticamente ser desconhecida em seu próprio País. Com 24 álbuns solo lançados no mercado norte-americano, após sete indicações, Eliane conquistou, na última terça-feira (15), o primeiro Grammy de sua carreira, na categoria Melhor Álbum de Jazz Latino, premiação conferida a Made In Brasil, álbum lançado em 2015, pelo selo Concord, com repertório composto por clássicos de nossa música popular, como Águas de Março, de Tom Jobim, Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, e Rio, de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal que, aliás, participa do trabalho cantando e tocando guitarra.

Eliane começou a estudar música em casa, aos seis anos de idade, por influência de sua mãe, Lucy, pianista clássica. Aos 13, ingressou no CLAM – Centro Livre de Aprendizado de Música, tradicional conservatório paulistano criado pelos integrantes originais do Zimbo Trio, o pianista Amilton Godoy, de quem foi aluna, o contrabaixista Luiz Chaves, morto em 2007, e o baterista Rubinho Barsotti. Aos 16 anos, Eliane começou a compor e a fazer no País suas primeiras apresentações profissionais.   

Experimentada, durante uma turnê em clubes de jazz europeus, aos 21 anos, em 1981, foi encorajada a se mudar para os Estados Unidos pelo contrabaixista Eddie Gomez, que a convidou para integrar o quinteto Steps Ahead em substituição ao pianista Don Grolnick. No grupo, conheceu o saxofonista tenor Michael Brecker, irmão de seu futuro marido, o trompetista Randy Brecker, pai de sua filha, a cantora Amanda Brecker (hoje, Eliane é casada com Marc Johnson, contrabaixista de sua banda).

A permanência da pianista brasileira no Steps Ahead foi consagrada com o trabalho mais elogiado do grupo, um LP homônimo lançado em 1983. Três anos mais tarde, Eliane deu início à sua discografia autoral com o álbum Amanda, uma homenagem à filha, então recém-nascida. Feito em parceria com o ex-marido, Randy, e marcado por fusões com instrumentos eletrônicos, apesar de contar com a participação do saxofonista Sadao Watanabe, o trabalho não gerou grande repercussão.

No entanto, em 1988, Eliane assinou contrato com a Blue Note, um dos mais importantes selos da história do jazz norte-americano, e lançou o álbum So Far So Close, primeiro de dez títulos feitos para a gravadora e marco inicial de uma discografia repleta de títulos celebrados pela crítica musical, entre eles, Eliane Elias Plays Jobim (Blue Note, 1989), Cross Currents (Denon Records, 1989), Fantasia (Blue Note, 1992), Impulsive (Stunt, 1997) e Something For You: Eliane Elias Sings & Plays Bill Evans (Angel Records, 2008).

Em 1994, ao lado do legendário jazzista Herbie Hancock, Eliane lançou, também pela Blue Note, Solos & Duets, um dos pontos altos de sua carreira. No álbum, o duo de pianistas divide harmonias e solos em seis dos 11 temas – composições de Eliane e standards brasileiros e norte-americanos, como Asa Branca, Autumn Leaves e The Masquerade is Over.

Apaixonada por jazz desde a adolescência, quando passou a executar e transcrever solos de ídolos do piano como Bill Evans, Art Tatum e Bud Powell, Eliane também é devota da melhor produção da música popular brasileira pós-bossa nova, celeiro de grandes pianistas da canção e da música instrumental, como Tom Jobim, Johnny Alf, Dick Farney, Tenório Jr., Dom Salvador, Manfredo Fest e Luiz Carlos Vinhas. Na fusão de fortes características dessas duas tradições, o caráter de improvisação do jazz e o universo harmônico e sincopado da bossa, despertou grande fascínio no público estrangeiro.

Nesses 35 anos em que Eliane Elias se consolidou fora do País, a música popular de matriz nacional que tanto fascina estrangeiros – sobretudo a bossa nova e a MPB dos anos 1970 – sofreu uma queda vertiginosa de qualidade. Talvez por isso, o grande público brasileiro, cúmplice auditivo da derrocada fomentada de forma vil por nossa indústria fonográfica, desconheça o trabalho de Eliane. Afinal, com o perdão da patrulha estética, bem mais que bim-boms e ho-ba-la-lás – para citar dois clássicos de João Gilberto – aos ouvidos de grande parte dos brasileiros, hoje parece interessar apenas lepo-lepos, bará-bará-barás e tra-tra-tras, neologismos do funk carioca, do arrocha e do sertanejo universitário.

MAIS

Ouça o álbum Solos & Duets, com participação de Herbie Hancock
Veja também vídeo de Eliane e Herbie, em sessões de estúdio do álbum 

Veja releitura instrumental de Desafinado (Tom Jobim / Newton Mendonça) apresentada pela pianista em São Paulo, na edição 1996 do festival Heineken Concerts 



Comentários

2 respostas para “Afinal, quem é Eliane Elias?”

  1. Que bom que existem pessoas que escrevem sobre os brasileiros que ganham Grammys! E que pena a Eliane Elias ser tão pouco conhecida no Brasil! Se me permite, acho que tem alguns erros de datas… O contrabaixista Luiz Chaves morreu em 2007. Em 1981 acho que a Eliane tinha 21 anos e não 31.

    1. Ge Cortes,

      Grato pelas considerações e retificações!

      Forte abraço.

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