Foto: Divulgação/ v.vannecke / lesroisvagabonds.com
Foto: Divulgação/ v.vannecke / lesroisvagabonds.com

É verão, hora de colocar o trabalho de lado e sair viajando pelas regiões francesas, de carro, para se ir parando aqui e ali, conforme o vento, ao acaso dos caminhos, das pequenas estradas que formam a rede capilar asfaltada mais incrível que conheço.

Hora de descobrir mais um Parque Regional. Mas o que é isto ? Os municípios se juntam para proteger a natureza que os cerca, montam um projeto que é analisado e validado por diversos ministérios, e criam assim um Parque Regional por 12 anos. Passado este tempo, a proteção obtida tem que ser reestudada.

Num destes parques, o do Pilat, não muito longe de Lyon e ainda mais perto de Saint Etienne, descubro a existência das Caminhadas & Concertos, conceito que consiste em um passeio a pé com um guia nas montanhas do Parque, e na volta, um espetáculo na praça de uma pequena cidade, tudo grátis.

Cento e seis pessoas participam da caminhada de 8km, pequena escalada da escarpa montanhosa sob a floresta, chegada ao topo com vista para o Vale do rio Rhône e as pontas dos Alpes lá do outro lado, pequena aula sobre a biodiversidade local (onde fico sabendo que as cigarras do sul têm migrado para o centro) e volta à cidadezinha onde haverá o espetáculo.

Os bancos da escola servem de arquibancada sob o sol escaldante. Quatro artistas desenvolvem o seu número de acrobacia com escadas, sobem, pulam, dão cambalhotas no ar e rolam no chão. Circo moderno. O riso das crianças alegra os números meio dark em que se lê uma crítica à submissão às regras da sociedade. Muito original.

Mais adiante na região da Provence, depois de rodar muito asfalto, assisto a um ensaio geral de uma peça que será representada no Festival de Avignon. Le Dernier Jour d’Yitzhak Rabin

Trata-se de uma encenação dirigida por Amos Gitai, cineasta israelense exilado em Paris, que conta a tragédia da morte de Yitzhak Rabin, representante de Israel nos acordos de paz de Oslo, junto a Yasser Arafat, e assassinado em 1995 por um extremista judeu. O texto retoma a entrevista de Léa Rabin, a esposa do primeiro-ministro, que conta em detalhes as últimas horas de seu marido, colocando o contexto do extremismo religioso como um processo que resultou neste assassinato e na chegada ao poder de Benyamin Netanyahou, que governa até hoje o país com mão de ferro. O aborto da Paz feito teatro, verdadeira tragédia contemporânea. Lindo.

Avignon é uma cidade muito antiga, na beira do mesmo rio Rhône que avistei lá de cima do Parque do Pilat, em que acontece o maior festival de teatro do mundo. Durante um mês, 1200 peças são representadas. Teatros de verdade e palcos improvisados recebem o Festival Oficial e o Off, numa efervescência sem igual. Pôsteres por toda parte, atores desfilando nas ruas fantasiados ou cantando, para chamar a atenção do público que se orienta sei lá como em meio a tantas opções. Em Avignon tenho a sorte de assistir ao espetáculo de um lindo dueto de palhaços bailarinos, Les Rois Vagabonds, que com seus corpos flexíveis e sua qualidade poética abrem o nosso imaginário e penetram nosso coração, fazendo-nos rir e chorar ao mesmo tempo.

E a boa notícia é que eles estarão em breve no Brasil!

29 de setembro a 1 de outubro, Rio de Janeiro (Brasil)
Festival Internacional de Linguagens, 8 e 9 de outubro, Fortaleza (a ser confirmado)
Festival de Teatro para Infância do Ceará


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